Crítica – Guardiões da Galáxia Vol. 2

Guardiões da Galáxia Vol. 2 é um filme extremamente divertido, emocionante, com uma belíssima fotografia. excelente trilha sonora, um dos melhores vilões dos filmes da Marvel e personagens adoráveis, relacionáveis e, principalmente, humanos (o que é engraçado já que nenhum deles é totalmente humano). O grande mérito de Guardiões da Galáxia Vol. 2 é fazer tamanho esforço parecer uma brincadeira, uma brincadeira de adulto sobre o sentimento de família.6 min


[SEM SPOILERS]

O primeiro Guardiões da Galáxia foi um filme revolucionário, tanto para o público quanto para a Marvel Studios e os filmes de heróis no geral. O roteiro era divertido e inteligente, as piadas eram bem pensadas e os personagens muito amáveis. E mesmo com um vilão tão esquecível quanto Ronan, a trama das Joias do Infinito e a “batalha de dança” superam isso. Chegamos então ao Vol. 2, que conserta esse único pesado ponto negativo, pois este filme tem um ótimo vilão, ou melhor, vilões. Isso prova que  Guardiões da Galáxia Vol.2 chega despretensiosamente ao Marvel Cinematic Universe (MCU), propondo, em seu argumento, ser um filme sobre uma “desajustada FAMÍLIA espacial”. A preocupação de James Gunn na sequência é apenas desenvolver seus personagens, sem conexões grandiosas com os eventos que levarão à Guerra Infinita. O objetivo é conhecer melhor a “família” formada no primeiro longa (que aliás é o tema do filme), enquanto brinca com novas possibilidades dentro do Universo Cósmico. Tudo permeado pelo senso de humor peculiar do diretor/roteirista. Uma assinatura que mistura cor, trash, sentimentalismo e besteirol frenético.

Em resumo, a história deste segundo filme, passada seis meses após a derrotarem Ronan, mostra que os Guardiões permanecem na ativa como um bando de “heróis espaciais de aluguel”, no entanto o grupo se vê numa busca pela verdadeira ascendência de Peter Quill quando encontra com Ego, o Planeta Vivo, que se declara pai do herói.

De cara, posso dizer que o filme é ótimo. James Gunn consegue repetir o sucesso exagerando nas piadas pois, acredite, mesmo sendo um filme “livre para as idades” ele esbanja em piadas de cunho sexual. Aliás, isso somado à ideias subjetivas aterrorizantes do vilão e  cenas pesadas de morte (gente sendo jogada para congelar no espaço aos montes e cavernas cheias de ossadas), faz como se o filme fosse um filme adulto só que maquiado para crianças. Até no sentido sentimental é diferente, terminando num luto “alegre” como em Star Wars – Episódio V: O Império Contra-Ataca  ou, recentemente, Logan. Gunn esbanja também em  referências à video games, de jogos de navinha, sons de fliperama ao próprio Pac-Man, sem contar também nas referências em séries dos anos 80.

A trama “herói contra vilão” demora a se desenvolver, o que pode entediar alguns, mas quando acontece é de um plot twist tão incrível que tudo vale à pena.  Mas no geral os 136 minutos passam voando entre piadas, participações especiais, referências à cultura pop, easter eggs, coloridas batalhas espaciais, músicas cativantes, armas gigantes e dramas universais (o pai ausente, a irmã competitiva, o filho rebelde que só quer ser amado e as incertezas de uma família recém-formada). Família é a ideia sempre martelada nesse filme e o diretor consegue nos mostrar isso com maestria, principalmente pelo formato que escolheu no roteiro do longa: um típico Character Movie, que prioriza o desenvolvimento de vários arcos de personagens em detrimento de uma grande jornada. Por isso, ao invés de simplesmente analisar nessa crítica a “jornada” em si do grupo, é melhor analisarmos os arcos de cada um.

Mantis e Drax são a grande dupla cômica do filme. Quando James Gunn disse que eles teriam um “relacionamento forte” no filme entendemos  que é uma relação  de amizade, beirando algo paternal. Drax sentindo nojo e dizendo que Mantis é terrivelmente horrível foi um dos pontos altos em nível de comédia do filme, inclusive quase todas as cenas de Drax são bem divertidas. Já Mantis consegue ser fofa e adorável, quase como o Groot no primeiro filme, mantendo a inocência cômica para Drax dar ares de um grande sábio, além de descobrimos quanta dor ele esconde por dentro.

Rocket tem toda uma trama no filme que mostra ele ainda sendo o mais irritante e odiado da equipe. As cenas do personagem conversando com Yondu e descobrindo que é mais parecido com o saqueador do que imagina são de molhar os olhos e de uma profundidade inesperada, que também é feito para desenvolver Yondu. Durante o filme vemos Rocket se desenvolvendo de uma maneira muito boa devido a ajuda de Yondu, que auxilia o herói a ver os erros em seu modo de agir.

Aliás, Yondu é a grande revelação do filme. O nível profundidade dada ao personagem, sua história no filme, torna incrível essa referência aos Guardiões 3000. O personagem se mostra mais poderoso que antes e sua história de redenção é bela, sentimental e o ponto alto do roteiro. Neste filme, Michael Rooker mostrou uma versatilidade não vista em seus outros trabalhos. Yondu, como Baby Groot diz, faz por merecer fazer parte da “porra dos Guardiões da Galáxia”.

Já Baby Groot não é mais do que apenas um ser adorável que aparece no filme para dar alguns momentos de humor e fofura. A cena inicial com ele dançando é visualmente incrível e uma das melhores sequências do filme. Contudo, o personagem acaba caindo em um ciclo de ser apenas fofo, divertido e então um gravetinho irritado. Não há desenvolvimento, o personagem é apenas isso. Baby Groot possui um potencial tão grande, mas acaba parecendo apenas um personagem criado para vender mais brinquedos. Mas, no fundo, não dá para deixar de rir deste mascote vegetal.

Nebulosa também se destaca bastante no filme. As motivações da personagem são bem convincentes e compreensíveis, Karen Gillan consegue passar exatamente a raiva, confusão e carência presentes na personagem, que deve retornar ainda mais focada e decidida em Guerra Infinita, já que ela possui um objetivo bem claro: matar Thanos.

Gamora acaba sendo mais um instrumento no filme e não tendo uma trama própria, ao invés disso ela serve como personagem de apoio para a história de Nebulosa e interesse amoroso de Quill… O que é uma pena dado o fato de que Zoe Saldana é uma excelente atriz, vide Avatar. No fim ela é mais uma ferramenta que por vezes fica deslocada no filme.

Peter Quill, o Senhor das Estrelas, finalmente descobre sua ascendência no filme. Ego é um ótimo personagem com motivações bem misteriosas e Kurt Russel está extremamente confortável no papel.

As cenas entre Ego e Peter são interessantes, porém, não conseguem empolgar, mesmo com a química entre os atores, as interações entre pai e filho são mais artificiais que o planeta no qual eles estão. Entretanto, no terceiro ato do filme tudo isso é compensado com uma surpresa de tirar o fôlego e prender você na cadeira boquiaberto. Algo tão bem construído que resgata minúsculas pistas no primeiro filme e na primeira cena do filme.

Saindo do escopo “roteiro/personagens”, um ponto no qual o filme tenta melhorar e consegue em relação ao primeiro é a incrível trilha sonora. A principio você estranha que essa “Awesome Mix Vol. 2” seja menos dançante e mais sentimental, o que te leva a crer que isso é algo ruim, mas isso é um equívoco inicial. Seja com The Chain, que estava presente nos trailers e aparece algumas vezes durante o filme, ou Come a Little Bit Closer, que toca em uma das melhores sequências do filme, ou até nos crédidos com Guardians Inferno, cantada por David Hasselhoff, que zoa o próprio filme. A trilha se encaixa de uma maneira tão orgânica, que é como se pudéssemos vê-la como um personagem, andando entre os nossos heróis, completamente viva.

A cena em que Quill e Baby Groot ouvem Father and Son de Cat Stevens é um daqueles momentos em que sente os olhos marejando e um nó na garganta quase se arrebentando. Fazia tempo que não via uma música transcrever bem um filme como um todo. E transcrever, além de amor e luto,  o sentido de família que o filme passa.

No fim, Guardiões da Galáxia Vol. 2 é um filme extremamente divertido, emocionante, com uma belíssima fotografia. excelente trilha sonora, um dos melhores vilões dos filmes da Marvel e personagens adoráveis, relacionáveis e, principalmente, humanos (o que é engraçado já que nenhum deles é totalmente humano). O grande mérito de Guardiões da Galáxia Vol. 2 é fazer tamanho esforço parecer uma brincadeira, uma brincadeira de adulto sobre o sentimento de família.

NOTA: 9,5

[youtube]https://www.youtube.com/watch?v=4-i8nTNSQFI[/youtube]

 

INFORMAÇÕES
Título: Guardiões da Galáxia Vol. 2 (Guardians of the Galaxy Vol. 2)
Direção: James Gunn
Duração: 136 Minutos
Lançamento: Abril de 2017
Elenco: Chris Pratt, Zoe Saldana, Zoe Saldana, Vin Diesel, Bradley Cooper, Michael Rooker, Karen Gillan, Pom Klementieff e Kurt Russell.

 

 

 


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Ton Borges

2 Comments

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  1. Como você deu nota 9,5 pra Guardiões 2? O filme é bom mas não é tudo isso, é um filme no máximo nota 8.
    Enquanto ao Ego, achei a apresentação dele como vilão muito boa, mas a motivação é uma das mais fracas do MCU até hoje.

    1. Também achei 9,5 um exagero. O filme tem uma barriga enorme no segundo ato, em que nada acontece. O ritmo é irregular. 8 é uma nota mais justa.