Análise – Batman: O Cavaleiro das Trevas

3 min


Sinopse: Em um futuro conturbado, Bruce Wayne, na faixa dos 50 anos e aposentado da sua vida como vigilante após a morte de seu parceiro Robin (Jason Todd), passa seus dias atormentado com as sombras de seu passado. Ele se encontra preso em um turbilhão de pensamentos que o enclausura na solidão. Gotham vive uma era de medo e decadência onde uma gangue conhecida como “Os Mutantes” domina suas ruas. Confrontado com o caos de sua cidade, Bruce vê que o símbolo do Batman é mais uma vez necessário e decide retomar, após 10 anos ausente, a capa que jurou abandonar: o cavaleiro das trevas retornou.

“Estou muito velho para tudo isso”
Batman – O Cavaleiro das Trevas

Dia x Noite. Homem x Deus. Bolacha x Biscoito. TeamCap x TeamIron. Coxinhas x Petralhas… eu poderia ficar o dia todo nisso. Esse ano, além de bissexto também é bipolar. Estreou recentemente o tão aguardado Batman vs Superman – A Origem da Justiça (2016). Um filme que prometeu trazer o embate, tanto político quanto físico, entre os dois maiores ícones da DC Comics. Mas se você pensa que trarei aqui a crítica dessa obra cinematográfica, não se engane. Estou aqui para falar de uma HQ em específico cujo o título se encontra no cabeçalho desse post.

Sim, aquela HQ que muitos ouviram falar, mas poucos realmente leram. Aquela HQ em que o filme baseou muitos de seus elementos, incluído o próprio Batman. Essa HQ que muitos consideram um marco, um divisor de águas…será tudo isso mesmo?
 
Batman – O Cavaleiro das Trevas de Frank Miller foi publicada em 1986 com uma proposta um tanto que inédita comparado com obras posteriores do Homem-Morcego. Na verdade, foi nessa época que o conceito de “quadrinho mais adulto” começou a ganhar força, sendo que tivemos Watchmen (1986) e A Piada Mortal (1988) vindo com essa leva. Os homens começaram a ser separados dos garotos.
Essa revista trabalha muitos aspectos, tanto do campo social quanto introspectivo do próprio Batman, mas sendo direto: o conteúdo de O Cavaleiro das Trevas daria uma excelente tese de faculdade de psicologia.
 
A figura do Batman sempre esteve entrelaçada a diversos níveis de frustração, mas nessa HQ é tão densa que após lê-la eu tive que buscar ajuda profissional. Batman: O Cavaleiro das Trevas não é recomendado se você estiver passando por um momento difícil. Frank Miller realmente parece entender o peso que nosso herói carrega nas costas. Os diálogos dramáticos e as perspectivas usadas transbordam significados e estimula pensamentos mais reflexivos em cada quadrinho. Após terminar de ler, eu realmente me senti “cansado”. 
 
Outro ponto que se destaca é a ambientação e estrutura do enredo. Gotham realmente passa por momentos difíceis. Comissário Gordon, perto de se aposentar, e Os Mutantes espalhando terror e medo entre os cidadãos. Pode-se dizer que um comparativo da decadência da cidade com o próprio Batman faz uma assimilação poética interessante. 
 
Em relação a estrutura de enredo, em vários momentos temos cenas que se passam dentro do campo midiático de Gotham onde pautas como a violência, redenção de antigos inimigos e, claro, a volta do Cavaleiro das Trevas são colocadas em discussão. A forma que Miller trabalhou o conflito de opiniões daqueles que defendem o Batman contra os que são contra, acusando-o de “Fascista”, realmente torna a revista mais imersiva e “pé-no-chão”, escapando daquela fantasia e idealização que a DC sempre trouxe para seus heróis.
 
Chegando na parte fatídica da revista onde temos o confronto do Homem-Morcego contra Superman, o que temos aqui é o embate entre duas ideologias distintas onde um é a personificação do governo em relação ao Batman e outro é a representação da “justiça com as próprias mãos”. Conflitos que assolam nossa sociedade até hoje, afinal, até que ponto a lei e ordem possui legitimidade? Até que ponto realmente funciona?
 
Batman: O Cavaleiro das Trevas merece sua fama pela proposta “pé na cara” e inovadora que trouxe para época, mas sua fórmula não se encaixa mais na atualidade, onde a violência e o “olho por olho” não se adequam para o sistema social do século XXI, mas devemos agradecer a Frank Miller por trazer um lado do Batman que, antes da sua publicação, se resumia a comicidade e humor trazido com o de Adam West e torná-lo um ícone único e uma visão inusitada do conceito de heroísmo, com a famosa linha de raciocínio de “qualquer um pode ser derrotado com preparo, até o Superman”. 

Título: Batman – O Cavaleiro das Trevas
Gênero: Ação/ Aventura
Autor: Frank Miller | Ilustrador: Frank Miller e Klaus Janson
Editora: Panini 
Edições: Edição Única
Publicação Original: Fevereiro a Junho de 1986
Páginas da Versão Nacional: 514 páginas

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Lucas Frazão

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