Crítica – John Wick: Um Novo Dia para Matar

John Wick: Um Novo Dia para Matar é divertido e faz o espectador sair satisfeito da sessão. Carece de alguma substância maior, mas nada que atrapalhe a experiência.6 min


[SEM SPOILERS]

Sinopse: Tentando finalmente se aposentar, John Wick (Keanu Reeves) é obrigado a pagar uma dívida antiga com o mafioso italiano Santino D’Antonio (Riccardo Scamarcio) que quer assumir o controle da sua máfia, atualmente controlada pela sua irmã Gianna D’Antonio (Claudia Gerini). Para isso, John terá que enfrentar toda a máfia italiana, incluindo os soldados Cassian (Common) e Ares (Ruby Rose), contando com a ajuda do líder dos mendigos (Laurence Fishburne) e sendo monitorado pelo gerente do Hotel Continental de Nova Iorque, a sede dos assassinos, Winston (Ian McShane).

É difícil avaliar um filme como este John Wick: Um Novo Dia para Matar. Embora divirta o espectador do começo ao fim e você saia da sessão sabendo que seu dinheiro foi bem gasto, depois de cinco minutos sua cabeça é tomada por outros pensamentos diversos e o filme acaba indo parar lá no fundo de sua memória. O longa não faz o espectador pensar sobre ele, não deixa uma mensagem para reflexão ou mesmo deixa quem o assiste ansioso para uma eventual continuação. Mas este John Wick diverte e o cinema nada mais é que diversão, então o longa cumpre sua função com eficácia.

Para quem não está conseguindo associar os títulos ao personagem, este John Wick: Um Novo Dia para Matar é uma continuação do filme De Volta ao Jogo (2014) que, em inglês, se chamava apenas John Wick. Para o segundo filme a distribuidora brasileira achou melhor utilizar o nome original no título brasileiro da continuação, já visando uma potencial franquia. Mas, convenhamos, a bagunça já estava formada. Para o público médio, que não acompanha o dia a dia do cinema, fica quase impossível associar que John Wick: Um Novo Dia para Matar é uma continuação de De Volta ao Jogo. Não existe correlação entre os títulos e duvido que alguém tenha decorado o nome do personagem de Keanu Reeves no primeiro filme para saber que o mesmo ganhou uma continuação. Foi um equívoco da distribuidora brasileira, mas até certo ponto justificável. Quando o primeiro longa foi lançado e 2014 nada, a princípio, levava a crer que haveria uma continuação. Mas o filme, que custou US$ 20,0 Milhões e arrecadou US$ 88,0 Milhões mundialmente, foi um sucesso de público e crítica e conseguiu mostrar potencial a ponto do estúdio Lionsgate dar sinal verde para uma continuação. Possivelmente, quando a distribuidora brasileira soube que haveria um segundo filme, nada pôde fazer a não ser lidar com o equívoco cometido com o título do primeiro longa e tomar a decisão que achou mais viável para a franquia no nosso território.

O americano Chad Stahelski tem um currículo curtíssimo como diretor em Hollywood, tendo dirigido apenas o próprio De Volta ao Jogo (2014) antes de sua continuação. Stahelski trabalhou durante anos como dublê e pode-se dizer que sua filmografia como diretor é regular, já que seus dois filmes são igualmente bons. Por ser oriundo do cinema de ação são nestas sequências que o longa chama a atenção. As coreografias das lutas de John Wick contra exércitos de soldados da máfia e outros assassinos profissionais como ele é de uma beleza plástica quase hipnotizante. O personagem luta contra vários soldados em sequência, apanha deles, bate neles, é baleado, mas sempre levanta para um segundo round. A maneira como o protagonista se utiliza de tudo que está a sua volta para atacar seus rivais gera sequências no mínimo curiosas como aquela envolvendo cigarro e outra envolvendo lápis.

Novamente um dos principais atrativos do longa é o conceito e a estruturação da ordem dos assassinos da qual John Wick fez/faz parte. É interessante ver como a organização tem uma estrutura global que possibilita a seus membros poderem atuar com suporte técnico e estratégico em diversos países. Vale um destaque para uma divertida sequência que se passa em Roma e é uma montagem de John Wick em três situações diferentes se preparando para a missão: o protagonista tendo auxílio para a composição de seu arsenal, confecção de seus ternos especiais e aprendendo sobre a planta do local que irá invadir. Embora alguns conceitos da organização não sejam novos para o espectador, outros são apresentados e isso evidencia ainda mais o comprometimento dos assassinos com a sua ordem. Chega a espantar que até os mendigos sejam organizados e possuam sua hierarquia e sua estrutura própria, deixando a dúvida de até onde os bastidores da sociedade podem ser estruturados naquele universo.

Embora o roteiro faça o possível para humanizar o personagem principal, incluindo novamente flashbacks de sua esposa morta e a relação de John Wick com cachorros, o espectador não compra a ideia de que ele possa eventualmente ser assassinado. E isso é um problema, já que diminui a conexão espectador-personagem e, consequentemente, a imersão no filme. Quem assiste ao filme sabe que não importa quantos soldados a máfia envie para matar John, ele sempre irá derrotar um a um. A mística envolvendo o personagem, que o faz ser conhecido e reverenciado em todas as organizações da sociedade, compromete a sua possível vulnerabilidade. A máfia e a sua organização também carecem de mais desenvolvimento no longa. Em vários momentos fica claro que o crime organizado é formado por diversas máfias (italiana, japonesa, russa, etc) e que até mesmo possuem uma organização que reúne todas elas. Mas isso nunca é explorado, sendo que apenas a máfia italiana tem importância na história. Explorar as outras faces da máfia serviria para enriquecer ainda mais aquele universo.

A montagem do longa é eficiente e as sequências de ação são cortadas de maneira a não comprometer o entendimento do que está acontecendo. John Wick sempre está em movimento, indo de um lugar a outro, gerando um dinamismo que garante um bom rimo ao filme. A fotografia é eficiente ao retratar as cidades e os lugares por onde o protagonista passa, com destaque para as vastas catacumbas da cidade de Roma. A trilha sonora é discreta, mas pontua bem o filme.

Keanu Reeves é um caso bem peculiar em Hollywood. O ator possui uma filmografia de boa qualidade, é totalmente low profile. tem limitações na hora de transmitir sentimentos e emoções em suas interpretações, mas gera tamanha empatia no público que é difícil achar quem não goste dele. Reeves sempre tive em sua disposição física seu maior trunfo e neste longa novamente este é seu maior mérito. A entrega física do ator é digna de aplausos e isso é ainda mais ressaltado quando sabemos que Reeves já tem 52 anos! Riccardo Scamarcio, ator italiano, está bem como o catalisador dos acontecimentos do longa e, embora seu personagem suma durante parte da narrativa, sabemos que ele que está por trás do que acontece com John Wick. O rapper Common está eficiente como o principal antagonista em termos físicos e de habilidades. Seu personagem consegue gerar certa tensão na história que agrada a quem assiste. Laurence Fishburne está bem como o influente líder dos mendigos, mostrando mais uma face da sociedade que é mais do que aparenta. Mas, obviamente, o maior atrativo é ver Reeves e Fishburne atuando juntos desde Matrix Revolutions (2003). Ruby Rose interpreta a principal capanga do vilão do filme, mas sua personagem é desnecessária e não contribui para a história. Ian McShane aparece pouco, mas sempre capta a atenção quando está em cena, evidenciando um grande ator que consegue render muito com seus poucos minutos em tela. Claudia Gerini tem um papel importante na narrativa, mas pouco tempo de projeção. Embora sua única sequência de destaque impressione pelos seus atos.

John Wick: Um Novo Dia para Matar é divertido e faz o espectador sair satisfeito da sessão. Carece de alguma substância maior, mas nada que atrapalhe a experiência. Já deixa uma ponta solta para uma eventual continuação que, se confirmada, promete ser maior e mais desafiadora para o protagonista. E mais divertida para nós.

NOTA: 7,0

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INFORMAÇÕES
Título: John Wick: Um Novo Dia para Matar (John Wick: Chapter 2)
Direção: Chad Stahelski
Duração: 122 Minutos
Lançamento: Fevereiro de 2017
Elenco: Keanu Reeves, Riccardo Scamarcio, Common, Laurence Fishburne, Ruby Rose, Ian McShane e Claudia Gerini.


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Derek Moraes

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