Crítica – Joy: O Nome do Sucesso

Joy - O Nome do Sucesso consegue ganhar o espectador pela jornada da protagonista que soa crível e interessante de ser assistida, além de estar, tematicamente, muito atual ao que Hollywood está produzindo sobre mulheres fortes e protagonistas de suas próprias histórias. Apesar de possuir furos no roteiro e personagens descartáveis, o longa ganha o público pela história de superação mostrada.6 min


[SEM SPOILERS]

Sinopse: Morando na mesma casa que seus dois filhos, seu ex-marido Tony (Edgar Ramirez), seus pais divorciados Rudy (Robert De Niro) e Terri (Virginia Madsen) e sua avó materna Mimi (Diane Ladd), Joy (Jennifer Lawrence) precisa conciliar seu emprego no aeroporto com a administração de sua caótica família. Após inventar um esfregão que se torce sozinho, Joy precisará da ajuda do produtor de TV Neil (Bradley Cooper) para divulgar seu revolucionário produto.


O diretor americano David O. Russell é conhecido por ter uma personalidade difícil de lidar. A maior prova disso é que o sempre pacífico George Clooney não quer ver o diretor nem pintado de ouro, já que as filmagens de Os Três Reis (1999) foram traumáticas para o ator devido às cobranças e às maneiras de O. Russell. Mesmo o diretor estando trabalhando em Hollywood há quase trinta anos, foi apenas nos últimos seis que ele começou a ter o reconhecimento de público e crítica. Seus três últimos filmes, os ótimos O Vencedor (2010) e O Lado Bom da Vida (2012) e o bom A Trapaça (2013), receberam diversas indicações à premiações importantes, como o Oscar e o Globo de Ouro, tendo saído vencedores em algumas categorias. O diretor gosta de trabalhar sempre com os mesmos atores e tem na representação de famílias problemáticas e disfuncionais, onde algum de seus integrantes precisa superar alguma dificuldade ou problema, seu maior trunfo. Em Joy – O Nome do Sucesso todos estes elementos estão de novo na tela. Embora a execução seja eficiente e o arco da personagem principal seja bem realizado e interessante, todo o resto parece muito com os outros longas do diretor, chegando a ficar muito caricato.


David O. Russell, que também escreveu este longa, consegue fazer um ótimo trabalho retratando as dificuldades encontradas por Joy para ser alguém na vida. O primeiro ato do filme é basicamente utilizado para mostrar, através de flashbacks, onde foi que a personagem errou para ter um presente tão opressor e sem esperanças. Vemos que Joy desde criança mostrou potencial para utilizar sua imaginação para criar invenções, como foi que a personagem se deixou levar pelo charme latino de Tony e como ocorreu o divórcio de seus pais e o seu próprio. Esta abordagem dá instrumentos para que o espectador entenda a dinâmica da família e os dramas de cada personagem. Focar a narrativa apenas em Joy favorece a ligação público-espectador, fazendo com que todo o resto seja apenas situações que, sim, influenciam na vida da personagem, mas que não chegam a ofuscar a sua história de ascensão. A longa sequência em que o personagem de Bradley Cooper leva Joy para conhecer os bastidores da TV em que trabalha funciona pela energia crescente que a sequência transmite. Primeiro vemos a estrutura do local, os lugares e ambientes. Depois vemos os apresentadores e suas concorrências internas. E, por fim, vemos como funcionava, nos anos 80, o sistema de venda de produtos pela televisão. A própria empolgação de Neil é paupável através do número crescente de vendas dos produtos em questão. É uma sequência bem dirigida e bem escrita, em que o espectador se sente na pele de Joy, descobrindo aquele mundo que lhe está sendo apresentado e todas as possibilidades que ele proporciona.


O terceiro ato é o calcanhar de Aquiles do longa. Há uma rápida solução do problema que se apresenta, que soa forçada por dois motivos. Primeiro Joy parece enxergar nos documentos e contratos uma solução que ninguém havia encontrado, nem mesmo advogados experientes na área de patentes. E segundo que esse súbito momento de brilhantismo da personagem se dá após ela cortar seu cabelo, como consequência de uma crise de raiva e posterior depressão. O espectador não entende o porquê da personagem ter cortado o cabelo e nem o motivo disso ter consequências tão relevantes. O diretor cria uma relação de causa e efeito que não funciona e fica difícil do espectador aceitar aquilo de uma maneira orgânica. A família de Joy é absurdamente problemática e não soa crível. Sua mãe estar há anos vivendo no mesmo quarto assistindo novelas, seu ex-marido vivendo no porão da casa, seu pai sendo devolvido pela terceira mulher, sua meio irmã não gostar dela, seu avó ser apenas uma figura decorativa. Estes são fatores que tornam a família de Joy muito artificial, muito caricata, criando certa distância do espectador que, embora se divirta com as interações entre os personagens, não consegue criar um vínculo emocional porque tem a sensação de que aquelas situações todas juntas na mesma casa não existiriam no mundo real.


A abordagem da personagem Joy e todo o seu arco no longa é o que movimenta a narrativa e o que gera a sensação de bem estar que o espectador sente ao sair da sala de cinema. De ponta a ponta da história Joy é representada como uma mulher forte, independente, de personalidade marcante e opinião contundente. É na nova onda de filmes que retratam mulheres fortes em papéis de destaque, cujos expoentes mais importantes dos últimos anos são a série Jogos Vorazes (2012-2015), a série Divergente (2014-hoje), Mad Max – Estrada da Fúria (2015) e Star Wars – O Despertar da Força (2015), este Joy – O Nome do Sucesso busca por seu espaço. E levando-se em conta apenas este fator, o filme se sai muito bem. Em nenhum momento o espectador deixa de admirar e torcer por Joy, fazendo com que o sofrimento da personagem seja paupável para quem está do lado de cá da tela. A vontade de vencer, de dar a volta por cima através de seus próprios méritos, de mudar a situação atual da sua família e de provar que a garota promissora ainda pode se tornar uma mulher de sucesso. São os desafios que se apresentam para Joy e as constantes voltas por cima da personagem que fazem com que o espectador tenha a catarse no momento em que Joy começa a apresentar o seu produto em rede nacional com um absoluto sucesso. Uma sequência em que a empolgação da personagem também é sentida pelo público.


Provando mais uma vez seu imenso talento e carisma, Jennifer Lawrence consegue carregar a narrativa sem nenhum problema. A atriz tem talento de sobra e consegue mostrá-lo em cada sequência em que aparece. Seja no papel de mãe, de filha, de neta, de inventora, de mulher de negócios, etc. Embora esteja muito bem neste longa, a sua indicação para o Oscar de Melhor Atriz talvez esteja forçada, já que outras atrizes, como Emily Blunt em Sicário – Terra de Ninguém (2015), estavam melhores do que Jennifer. Mas isso não tira os méritos da indicação da atriz, que precisa se provar a cada novo longa e ainda reclama publicamente que recebe um salário menor do que dos homens em Hollywood. Robert De Niro está bem como o pai de Joy, mas o ator não faz questão de colocar muita energia no personagem, que a partir da metade do longa perde espaço. Edgar Ramirez continua batalhando por espaço no cinema americano e faz um bom trabalho neste longa, colocando o charme e a malícia latina a favor de um personagem que não tem muito o que fazer além de ser um porto seguro de Joy. Bradley Cooper aparece apenas na metade do filme, mas consegue roubar a cena fazendo o produtor de TV que está disposto a ajudar Joy. O ator funciona como alguém que entende de vendas e como alguém disposto a ajudar. A dinâmica entre o ator e Jennifer Lawrence funciona, o que já foi comprovado anteriormente, capturando a atenção do espectador quando os dois estão juntos atuando. Virginia Madsen surge caricata como a mãe de Joy, soando forçado o seu exílio, causado por ela mesma, ao seu quarto assistindo à novelas americanas. Uma personagem que só tem a função de aumentar ainda mais o drama da protagonista, mas não acrescentando em nada à narrativa. Diane Ladd faz a avó e protetora de Joy, entregando uma personagem que, embora submissa e omissa, batalha pelo sucesso da neta e sempre está disposta a estimulá-la. 


Joy – O Nome do Sucesso consegue ganhar o espectador pela jornada da protagonista que soa crível e interessante de ser assistida, além de estar, tematicamente, muito atual ao que Hollywood está produzindo sobre mulheres fortes e protagonistas de suas próprias histórias. Apesar de possuir furos no roteiro e personagens descartáveis, o longa ganha o público pela história de superação mostrada.

NOTA: 7,0
[youtube]https://www.youtube.com/watch?v=jbiMQqKGTxY[/youtube]

 

 


INFORMAÇÕES

Título Nacional: Joy – O Nome do Sucesso (Joy)
Direção: David O. Russell 
Duração: 124 Minutos 
Lançamento: Janeiro de 2016
Elenco: Jennifer Lawrence, Robert De Niro, Edgar Ramirez, Bradley Cooper, Virginia Madsen e Diane Ladd.








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Derek Moraes

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