Crítica – Star Wars: Episódio I – A Ameaça Fantasma

Mesmo não fazendo jus à qualidade da trilogia clássica, Star Wars: Episódio I - A Ameaça Fantasma tem o mérito de recolocar a saga no lugar devido de destaque da cultura pop mundial. Apresenta a história para uma nova geração de espectadores e prepara o terreno para as suas duas continuações. Sua trama não empolga, mas há adições importantes à mitologia da saga e o longa fascina tecnicamente, com efeitos especiais, direção de arte e trilha sonora marcantes.6 min


[CONTÉM SPOILERS]

Sinopse: Para negociar com a Federação do Comércio contra o bloqueio militar ao pacífico planeta Naboo governado pela jovem Rainha Padmé Amidala (Natalie Portman), o Senado Galáctico envia o cavaleiro jedi Qui-Gon Jinn (Liam Neeson) e seu aprendiz padawan Obi-Wan Kenobi (Ewan McGregor). Uma série de acontecimentos os leva ao encontro do escravo Anakin Skywalker (Jake Lloyd), um garoto que demonstra incrível potencial para a utilização da Força. Para conseguirem chegar à capital da República Coruscant e contarem com o apoio do influente senador Palpatine (Ian McDiarmid), os jedi precisarão lidar com o misterioso sith Darth Maul (Ray Park). 

 


Dezesseis anos separam este Star Wars: Episódio I – A Ameaça Fantasma do seu antecessor, Star Wars: Episódio VI – O Retorno de Jedi (1983). George Lucas sempre demonstrou intenção de realizar mais uma trilogia da saga espacial, tendo concebido a história base da nova trilogia praticamente junta com a história base da trilogia clássica. Lucas esperou anos até que a tecnologia de efeitos especiais alcançasse o nível que ele achava adequado para adaptar os novos longas de maneira satisfatória e, talvez, criar uma nova revolução na área como aconteceu com o lançamento da trilogia clássica. Quando este novo filme foi anunciado, a comoção dos fãs foi instantânea. Embora tenham sido supridos nesses dezesseis anos do universo de Star Wars a partir de livros, histórias em quadrinhos e jogos para video games, é nos filmes que se encontra a origem da paixão dos fãs. Em uma época em que a internet estava apenas engatinhando, o acesso aos materiais (notícias, fotos, trailers) do novo longa era difícil. Quando o primeiro trailer de A Ameaça Fantasma foi lançado nos cinemas, em 1998, fãs de Star Wars compravam ingressos repetidas vezes para filmes diversos, assistiam ao novo trailer e depois deixavam a sala, não ficando para assistir ao filme que seria exibido. Esta é apenas uma prova do poder da influência que Star Wars possui nos seus fãs e na cultura pop. 
 
Infelizmente George Lucas nos apresenta neste A Ameaça Fantasma o pior filme da hexalogia. Embora não seja um filme ruim, longe disso, mas é um longa que destoa da qualidade dos outros membros da saga. Lucas possui um talento admirável e vanguardista na utilização de efeitos especiais e sua criatividade na criação de um universo com mitologia própria é marcante. No entanto falta ao diretor talento na direção dos atores. Quando os atores são bons, a mão do diretor não pesa tanto pois o próprio ator consegue se sobressair. Mas quando o ator é limitado, possivelmente temos uma interpretação sofrível.


A história de A Ameaça Fantasma é um dos pontos fracos do longa. O espectador estava acostumado a longas de Star Wars divertidos, movimentados, leves e com personagens com vontade de se aventurar no desconhecido em busca de descobertas e do próprio autoconhecimento. Neste longa temos um trama política, pesada, que o espectador não consegue digerir. Embora seja interessante ver o funcionamento da República através do Senado Galáctico, calcar toda a história em torno de disputas tributárias de rotas espaciais comerciais é exigir demais da boa vontade do espectador. O resultado é um desinteresse na história principal, sendo mais interessante acompanhar os personagens e suas ações e tentar caçar detalhes que façam conexão com a trilogia clássica. O vilão Darth Maul é visualmente ameaçador e seu sabre de luz de lâmina dupla é uma adição bem-vinda à mitologia da saga, mas o personagem possui meia dúzia de falas, não é desenvolvido e todo o seu potencial é eliminado já neste longa. O chato Jar Jar Binks (Ahmed Best) não acrescenta em nada à trama, sendo apenas mais um sinal da vontade de George Lucas de infantilizar a narrativa, como os ewoks no Retorno de Jedi. 
 
Há acertos na trama do longa. Mostrar o funcionamento do Senado Galáctico serve como contraste para o universo opressivo da trilogia clássica, onde o poder das decisões políticas estava nas mãos apenas de uma pessoa. O espectador poder conhecer o Conselho Jedi e sua estrutura ajuda a aumentar a mítica envolvendo os guardiões da paz e da justiça da galáxia, e a importância dos cavaleiros na manutenção da República e, consequentemente, da democracia é apenas pincelada para, nos próximos filmes, ser melhor explorada. Ambientar parte da trama em Tatooine favorece a sensação de familiaridade para o espectador mais saudosista que necessita de algum elemento mais concreto da trilogia clássica. E apresentar, logo na primeira meia hora de projeção, o escravo Anakin Skywalker já deixa claro que a nova trilogia iria tratar sobre a ascensão e queda do futuro Darth Vader, sendo o caminho pelo qual o garoto irá trilhar até chegar ao lado escuro da Força o grande atrativo dos novos longas. 


Como grande característica de George, tecnicamente o longa é espetacularmente lindo. Tatooine continua sendo o lugar isolado e arenoso já apresentado anteriormente, mas nem por isso chama menos atenção. Naboo é belíssima, com suas cachoeiras que parecem cair para lugar nenhum, seus prédios em tons de amarelo e azul, com grandes abóbodas, sendo um dos lugares mais bonitos mostrados em toda a saga. Coruscant, um imenso planeta metrópole, surpreende pela dimensão de suas construções, uma paisagem praticamente cinza e seu tráfego aéreo incessante, com destaque para o imenso Senado Galáctico e o lendário Templo Jedi. Os efeitos visuais foram inovadores para a época e envelheceram bem. A corrida de pods continua eletrizante e bem realizada até hoje, assim como Jar Jar Binks, criado totalmente por computação gráfica. O exército de droides, embora sem nenhuma personalidade, é bem animado e facilita a ação, já que não há sangue sendo mostrado quando são abatidos. O duelo de sabre de luz entre Qui-Gon Jinn e Obi-Wan Kenobi contra Darth Maul é o melhor da saga até então, muito bem coreografado, dinâmico e visualmente arrebatador. A trilha sonora composta pelo gênio John Williams trás de volta os temas da trilogia clássica, mas com uma nova e perfeita adição da faixa Duel of the Fates, que pontua toda a ação do terceiro ato. 
 
Liam Neeson coloca o peso necessário para um personagem desconhecido do público, mas que demonstra ser muito sábio, o que o ator consegue transmitir para o espectador. Seu porte físico e sua voz ajudam na composição do personagem, um mestre jedi imponente e respeitado pelos semelhantes. Ewan McGregor está bem como o jovem Obi-Wan Kenobi, colocando energia e entusiamo ao personagem digno de um aprendiz. Embora seja colocado de lado na trama, o respeito ao seu mestre, sua vontade de aprender e fazer o melhor e sua lealdade à Força já mostram o potencial que o personagem possui e que será explorado posteriormente. Natalie Portman interpreta uma Rainha Padmé Amidala corajosa, orgulhosa e engenhosa, não fazendo o papel de dama em perigo, o que combina perfeitamente com o que já foi mostrado da sua futura filha, a Princesa Leia. Jake Lloyd é o ponto fraco do elenco. Mesmo possuindo muita boa vontade e disposição como o principal personagem desta nova trilogia, o ator é tecnicamente limitado e ter como diretor George Lucas em nada ajudou para melhorar seu desempenho. Apesar de tudo, o personagem é construído de maneira a mostrar várias características importantes, como seu dom como piloto, seu amor incondicional à mãe e sua vontade de ajudar ao próximo. Ian McDiarmid está discreto, aparecendo poucas vezes, mas sua presença e seus atos são essenciais para que o espectador perceba toda a construção do seu plano de dominação. Ray Park está bem na disposição para a realização das cenas de luta e sua caracterização é marcante, mas o seu personagem é pessimamente explorado e seu potencial desperdiçado. Pernilla August está ótima como a mãe de Anakin, Shmi, mostrando todo o amor que a personagem sente pelo filho e todo o sacrifício que a mesma faz ao deixar o filho partir em busca de um futuro melhor. 
Mesmo não fazendo jus à qualidade da trilogia clássica, Star Wars: Episódio I – A Ameaça Fantasma tem o mérito de recolocar a saga no lugar devido de destaque da cultura pop mundial. Apresenta a história para uma nova geração de espectadores e prepara o terreno para as suas duas continuações. Sua trama não empolga, mas há adições importantes à mitologia da saga e o longa fascia tecnicamente, com efeitos especiais, direção de arte e trilha sonora marcantes.

NOTA: 6,0

[youtube]https://www.youtube.com/watch?v=JdtZWJyLiz0[/youtube]

INFORMAÇÕES
Título: Star Wars: Episódio I – A Ameaça Fantasma (Star Wars: Episode I – The Phantom Menace)
Direção: George Lucas
Duração: 133 Minutos 
Lançamento: 24/06/1999
Elenco: Liam Neeson, Ewan McGregoNOTA: 7,0r, Natalie Portman, Jake Lloyd, Ian McDiarmid e Ray Park.


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Derek Moraes

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