Crítica – Star Wars: O Despertar da Força

Transbordando sentimentos nostálgicos desde o momento em que os letreiros inicias começam a subir na tela, Star Wars - O Despertar da Força entrega tudo o que promete e com uma história minimalista, porém eficiente, consegue agradar aos fãs mais fervorosos e aqueles que estão sendo apresentados à saga agora. 10 min


[SEM SPOILERS]

Sinopse: Trinta anos após a queda do Império Galáctico e a morte de Darth Vader, o último jedi Luke Skywalker (Mark Hamill) está desaparecido. Com o objetivo de encontrar o irmão para ajudar na luta da Resistência contra a Primeira Ordem, organização que deseja a reinstalação do Império Galáctico, a General Leia Organa (Carrie Fisher) envia o piloto Poe Dameron (Oscar Isaac) para o planeta Jakku com o objetivo de obter um mapa que os leve ao jedi desaparecido. Poe irá cruzar o caminho do melhor guerreiro da Primeira Ordem Kylo Ren (Adam Driver) e do principal comandante da organização, o General Hux (Domhnall Gleeson). Por acidente o mapa acaba caindo nas mãos da sucateira Rey (Daisy Ridley) que se unirá ao misterioso Finn (John Boyega) para devolve-lo à Resistência, cruzando no percurso com o lendário contrabandista Han Solo (Harrison Ford). 


Quando a Disney comprou a Lucasfilm no final de 2012 e anunciou que a saga Star Wars voltaria aos cinemas, todos os fãs órfãos da criação de George Lucas tiveram suas esperanças renovadas. Lucas já havia dito que ele não continuaria a história da família Skywalker, fazendo com que todos pensassem que a saga se resumiria, no cinema, aos seis filmes lançados. Numa atitude um tanto quanto altruísta, já que colocou sua maior criação nas mãos de pessoas desconhecidas e que poderiam fazer o que quisessem com ela, Lucas vendeu a Lucasfilm e todas as suas marcas, incluindo Star Wars e Indiana Jones, à Disney por US$ 4,0 Bilhões. Mesmo que tenha lucrado bastante com a venda de sua empresa, a verdade é que George Lucas já era o cineasta mais rico do mundo, então não foi dinheiro que o motivou a abrir mão da Lucasfilm. O cineasta percebeu que a saga poderia e deveria continuar sendo levada aos cinemas, mas a partir de pessoas mais novas e com visões diferentes dele mesmo, trazendo um ar de novidade que Star Wars precisava. E nada melhor para que isso acontecesse do que vender à Disney, talvez o maior conglomerado de entretenimento do mundo, dona dos estúdios Pixar, Marvel, e lançando alguns dos filmes mais bem sucedidos da história, sempre tendo como principal característica o cuidado e a atenção que dispensa aos seus produtos.



A produção de Star Wars – O Despertar da Força foi tumultuada. Demorou-se para encontrar o diretor e para escalar os atores. A estreia foi adiada de maio para dezembro. Mas os fãs de Star repetiam o mesmo mantra ‘Em J. J. Abrams nós confiamos’. E a confiança era válida. O diretor é conhecido por ser um nerd de carteirinha, tendo levado aos cinemas a nova versão de Star Trek (2009 e 2013), ter dado o gás que a franquia Missão: Impossível precisava dirigindo o terceiro longa (2006) e criado séries de sucesso de público e crítica como Alias (2001 – 2006) e Lost (2004 – 2010). A divulgação do material dos filmes demorou para acontecer, e quando acontecia era tudo muito pouco, não saciando a curiosidade dos fãs. Quando a campanha de marketing realmente começou, em outubro deste ano, a Disney utilizou todo o seu maquinário para divulgar o novo longa, fazendo com que o único trailer completo fosse exibido dentro de programas em canais de sua propriedade como os canais ESPN. E mesmo essa campanha de marketing foi discreta, até porque, convenhamos, Star Wars não precisa de muito para se vender. A Disney comprou a ideia de J. J. Abrams em manter tudo em segredo, desde a história, acontecimentos até personagens. Apenas o essencial foi divulgado. O público comprou a ideia também, e quem conseguiu fugir de spoilers até a hora em que entrou na sala de cinema conseguiu aproveitar uma experiência única de não saber nada o que aconteceria, apenas que estaria vendo a franquia que estabeleceu as bases da cultura pop atual voltar aos cinemas e ser apresentado a uma nova geração. E a experiência foi digna da dimensão de Star Wars. 


J. J. Abrams consegue ser respeitoso ao que já foi mostrado de Star Wars, principalmente a Trilogia Clássica, mas ao mesmo tempo sabe que a plateia não quer assistir mais do mesmo. O diretor, que também escreveu o longa, se utilizou de efeitos visuais práticos junto com efeitos especiais computadorizados. A mistura é orgânica e aumenta a imersão do espectador no filme. Tudo que é mostrado na tela se mostra crível e paupável. Nada de artificialidade. Para agradar aos fãs mais fervorosos, o diretor coloca vários easter eggs durante o longa, como o tabuleiro de ‘xadrez galáctico’ que é mostrado em Star Wars: Episódio IV – Uma Nova Esperança, assim como a esfera que dispara lasers que Luke utiliza para treinar com o sabre de luz no mesmo longa, além de diálogos que remetem a acontecimentos passados como a pergunta de Han Solo para Finn ‘Vocês têm compactador de lixo na nave?’ quando os personagens estão decidindo que fim dar a determinado personagem, numa clara referência que os fãs irão notar. As sequências de ação são dirigias com eficiência, mais minimalistas se comparadas com as sequências da Nova Trilogia, mas nem por isso menos impactantes. A sequência que se passa em Jakku onde Finn e Rey precisam fugir da nova ordem é enérgica e dinâmica, assim como a sequência que envolve alguns contrabandistas e três monstros no cargueiro que Han Solo agora comanda. As sequências que envolvem os X-Wings continuam chamativas e divertidas de serem apreciadas, mas com a utilização de efeitos especiais modernos as batalhas se tornam mais fluídas e visualmente impactantes. O duelo de sabres de luz que acontece no final do longa é magistralmente coreografado, mostrando que nenhum dos dois personagens envolvidos é bem treinado na arte do duelo com aquele tipo de arma, criando um combate mais selvagem, que se utiliza muito mais da força e vigor do que das habilidades dos personagens. 


A história tem muita relação com aquela mostrada em Star Wars: Episódio IV – Uma Nova Esperança, onde alguém comum  é colocado em uma situação que envolve o futuro da galáxia, passando por provações e autoconhecimento até que assume a posição de destaque e importância dentro daquele contexto. Novamente temos um dróide que é objeto de cobiça por todos, o BB-8, que por ter uma personalidade quase infantil e sua forma física esférica consegue cativar o público de imediato, criando a primeira conexão público-personagem do longa. Pela primeira vez na franquia sabemos como os stormtroopers são recrutados, através de um diálogo forte de Finn. Luke é a locomotiva do filme, é ele que faz a história andar para frente, já que a sua busca é o objetivo de todos os personagens do longa. Essa relevância do do jedi na trama é justificada, já que ele é o último da sua ordem e o único que pode passar os ensinamentos da Força adiante e o único que pode fazer realmente a diferença no conflito entre Resistência e Primeira Ordem. É interessante para o espectador, que esperava que após os acontecimentos da Trilogia Clássica a ordem na galáxia fosse restaurada, saber que nem tudo deu certo, que a Força e os jedi continuam sendo lendas e que a Nova República está frágil mesmo após 30 anos de sua concepção. 


O roteiro tem problemas e o principal deles é utilizar, pela terceira vez em sete filmes, um conceito de arma de destruição de planetas como principal ameaça. Por mais que desta vez haja uma diferença interessante que é a captura da energia de um sol para canalizar esta mesma energia na forma de um feixe que aniquila planetas, utilizar o mesmo conceito já mostrado outras duas vezes mostra uma preguiça dos roteiristas absurda, parecendo que não há outra forma de colocar uma ameaça relevante na trama que não seja este tipo de arma. A Capitã Phasma está sobrando na trama, o que é um desperdício de um bom visual (um stormtrooper cromado) e um ótima atriz (Gwendoline Christie, a Brienne de Game of Thrones), já que a personagem não tem função na história e poderia ter sido excluída do roteiro. A Nova República é citada, mas nunca apresentada, o que acaba frustrando o espectador, que gostaria de saber mais sobre o novo governo que só existe devido aos acontecimentos da Trilogia Clássica. Não precisava colocar a política como o destaque da trama como George Lucas fez na Nova Trilogia, mas dar mais detalhes a algo tão importante para a história seria o ideal.



A direção de arte do longa é excelente, com destaque para o castelo de Maz Kanata (Lupita Nyong’o) e sua diversidade cultural digna de Mos Eisley em Star Wars: Episódio IV – Uma Nova Esperança, e  as instalações de Jakku, que possui todo o seu comércio voltado para a compra e venda de sucatas. O planeta, aliás, é retratado de maneira belíssima, se mostrando mais desolador e pobre que Tatooine, com desertos imensos e destroços de naves de alguma batalha que já aconteceu por lá. O design de criaturas e maquiagem está inspirado, adicionando novas espécies ao portfólio da saga, em especial Maz Kanata e o Supremo Líder Snoke (Andy Serkis). A fotografia mais uma vez nos apresenta cenários visualmente arrebatadores, como Jakku e o gelado planeta que serve de estrutura para a base Starkiller, a nova Estrela da Morte. Os efeitos especais estão irretocáveis e sem exagero, apenas quando são necessários. Tanto a batalha final contra a Starkiller, quanto a batalha que acontece em Jakku e aquela que acontece em Tokodana são bem realizadas e visualmente impressionantes.  Como é de costume, novas naves são apresentadas e o destaque fica para as naves de desembarque dos stormtroopers e a nave da Resistência que a General Leia utiliza. A trilha sonora continua tendo John Williams por trás e continua perfeita. Há temas antigos sendo utilizados, juntamente com novos temas como o da Resistência. Um show como sempre do maestro. 


Por ser o início de uma nova trilogia, muitas perguntas ficam no ar. Aconselho apenas quem já assistiu ao filme ler as próximas linhas para evitar alguma informação que pode estragar a experiência. Quem são os pais de Rey? Algo importante aconteceu no passado da personagem e está intrinsecamente ligada à história geral. Por que Luke se isolou? Embora saibamos que Kyle Ren matou os outros padawans da academia e por isso o jedi preferiu o exílio para evitar cometer o mesmo erro de novo, qual o interesse de Luke no primeiro tempo jedi? Qual a história do Supremo Líder Snoke? Qual a função dos Cavaleiros de Ren? São perguntas que precisarão ser respondidas nos próximos longas, mas que deixam o espectador ansioso para saber mais sobre a história. 

O elenco dos novos atores é de praticamente desconhecidos, o que George Lucas já tinha feito na Trilogia Clássica. Daisy Ridley é a estrela do filme, roubando cada cena em que está presente. É impressionante a presença de tela que a atriz possui, a disposição para as cenas de ação e a vontade de passar para o espectador as emoções que a personagem está sentindo. A personagem é bem escrita e cresce com o filme, culminando na melhor e mais impactante cena do filme. John Boyega é o alívio cômico do longa, mas consegue a simpatia do público com sua história sofrida de seu personagem, que logo na sua primeira missão tem uma crise de consciência e não sabe se o que está fazendo é certo. Oscar Isaac some durante o segundo ato do longa, mas o personagem tem potencial para crescer nos próximos longas como o melhor piloto da Resistência. O ator consegue colocar seu charme latino e seu sorriso fácil a favor do personagem, criando um Poe Dameron carismático e com apelo para com o público. Adam Driver está muito bem como o vilão Kylo Ren, mostrando a aptidão que o personagem possui para com a Força e sua resistência recorrente ao lado da luz. O físico esguio do ator é um contraste interessante aos normalmente parrudos vilões do cinema atual, criando uma fácil identificação visual do personagem. Domhnall Gleeson mostra potencial como General Hux, embora não tenha muito o que fazer além de dar ordens para seus subordinados. Mas é interessante assistir aos embates argumentativos e provocações que constantemente ocorrem entre Hux e Ren. Harrison Ford continua perfeito como Han Solo, um dos personagens mais importantes da história do cinema. O ator ainda possui vitalidade para as sequências de ação, mesmo com seus atuais 73 anos. Sua participação é nostálgica e enriquece o filme, sendo um acerto o seu retorno, assim como de todos os personagens clássicos. Carrie Fisher está mais contida que de costume, mas a atriz consegue transmitir sabedoria apenas com o olhar, apresentando uma personagem forte e respeitada pelos integrantes da Resistência. A atriz ainda consegue transmitir dor e ternura em sua interpretação, sentimentos estes resultantes de acontecimentos que a fizeram sofrer durante os anos. Quanto a Mark Hamill e seu Luke Skywalker nada deve ser revelado, já que qualquer coisa que seja citada pode comprometer a sua experiência se você ainda não assistiu ao longa.



Transbordando sentimentos nostálgicos desde o momento em que os letreiros inicias começam a subir na tela, Star Wars – O Despertar da Força entrega tudo o que promete e com uma história minimalista, porém eficiente, consegue agradar aos fãs mais fervorosos e aqueles que estão sendo apresentados à saga agora. O longa mostra que muita coisa ainda está por vir e que em mãos competentes Star Wars sempre pode render bons filmes já que seu universo é rico, seus personagens são carismáticos e seus fãs são devotos. Figura entre os melhores da saga, possuindo pequenos problemas que incomodam, mas não comprometem. O filme evento do ano. A expectativa valeu à pena. 

NOTA: 9,0

[youtube]https://www.youtube.com/watch?v=4r0287tUEgk[/youtube]

 


INFORMAÇÕES

Título Nacional: Star Wars – O Despertar da Força (Star Wars – The Force Awakens)
Direção: J. J. Abrams
Duração: 135 Minutos 
Lançamento: 17/12/2015
Elenco: Daisy Ridley, John Boyega, Adam Driver, Harrison Ford, Carrie Fisher, Oscar Isaac, Mark Hamill e Domhnall Gleeson. 




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Derek Moraes

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