Crítica | Digimon Adventure Tri: Parte Um – Reunião

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Para comemorar os 15 anos do lançamento de Digimon Adventure, ou apenas Digimon para nós brasileiros, a Toei Animation, estúdio detentor dos direitos da série, anunciou no começo deste ano Digimon Adventure Tri. Dividido em seis partes, cada parte contendo quatro episódios, o novo anime daria continuidade aos eventos de Digimon Adventure e Digimon Adventure 02, retratando os oito digiescolhidos originais seis anos após os acontecimentos da primeira temporada e três anos após os acontecimentos da segunda. Não levando em conta as outras quatro temporadas que sucederam Digimon 02, que não pareciam pertencer ao mesmo universo das duas primeiras, o objetivo da Toei Animation era claro: aproveitar o sentimento saudosista dos fãs da série para garantir uma sobrevida às histórias de Tai e seus amigos. Mas o que poderia ser apenas uma jogada oportunista do estúdio para faturar em cima dos fãs, acabou se mostrando uma iniciativa acertada e madura que, ao mesmo tempo que emociona o espectador fã da série pela nostalgia, consegue surpreende-lo pelas novidades.

A história apresentada nestes primeiros quatro episódios é mais centrada nos oito digiescolhidos e suas dificuldades como adolescentes, sendo que o enredo maior da narrativa é apenas pincelado, sobrando perguntas e faltando respostas. Em uma belíssima sequência percebemos que algo aconteceu com os quatro digiescolhidos de Digimon 02, Davis, Ken, Yolei e Cody. Não ficamos sabendo o que aconteceu, apenas que os personagens aparecem caindo no chão derrotados ou mortos. Nada sobre os quatro é citado durante os episódios, então este já é o primeiro mistério que fica no ar. Para complicar a situação, portais do Digimundo começam a se abrir no Japão, permitindo a passagem de Digimons para o nosso mundo. Estes Digimons são mais fortes que o habitual e após um deles causar um grande desastre em Odaiba, os Digimons dos digiescolhidos também vêm para este lado do portal com o objetivo de ajudar no combate aos Digimons Infectados, que é o nome que eles recebem posteriormente. O motivo destes Digimons estarem invadindo nosso mundo e o porquê deles serem mais fortes, a origem dos portais, a presença de outros Digimons no Japão que não causam problemas, mas estão sempre perto das batalhas, são as principais perguntas que ficam no ar no final dos quatro episódios. Este clima de confusão e incapacidade em entender o que está acontecendo por parte dos digiescolhidos é bem construída, criando tensão no espectador que fica desamparado sabendo que nem os personagens sabem direito como agir nas situações que se apresentam. Para finalizar os mistérios deste novo Digimon, há uma agência governamental misteriosa composta por pessoas misteriosas cuja função é auxiliar os digiescolhidos e seus Digimons a combater os Digimons Infectados.O roteiro dos quatro episódios é inteligente ao gastar bastante tempo focando nos personagens. Há de se lembrar que Digimon conquistou os fãs por possuir personagens complexos, tridimensionais, humanos e cativantes, fazendo com que a ação ficasse em segundo plano. A ação só ocorre na metade do segundo episódio. Enquanto isso acompanhamos cada digiescolhido com a sua rotina e seus problemas, e todos lamentando como nunca mais conseguiram se reunir os oito juntos. A passagem de tempo de seis anos favoreceu o amadurecimento dos personagens e a possibilidade de explorar novas faces dos mesmos. Tai e Matt estão em um triângulo amoroso com Sora, Izzi começa a ter uma queda pela Mimi, Joe está focado nos estudos para o vestibular, Kari está arrasando corações na escola e T.K. tem encontros com mulheres. Como o público envelheceu, nada mais justo que os personagens também envelheçam e enfrentem situações mais próximas daquelas que os fãs estão enfrentando ou enfrentaram. Ao mesmo tempo a familiaridade com os personagens e as situações está presente, como a eterna rivalidade entre Tai e Matt, a genialidade de Izzi e o apoio incondicional de T.K. ao seu irmão. A interação dos personagens com seus Digimons é um pouco falha, assim como os Digimons mostrando suas próprias personalidades. Fica parecendo que as criaturas são mascotes dos humanos, sem sentimentos, vontades e desejos. Possivelmente com o tempo isto melhore, principalmente se levarmos em conta que ainda há 20 episódios pela frente, sendo que os próximos quatro tem previsão de lançamento em 12 de março de 2016.

A qualidade da animação é de impressionar. Embora o traço do desenho seja muito diferente da série original, não é desrespeitoso ou chega a incomodar. Com o tempo o espectador acostuma e aceita, e gasta o resto do tempo apreciando a qualidade do que está vendo. A animação está fluída, colorida,  vibrante, dinâmica e agradável de se assistir. Os combates estão mais movimentados e melhor animados, garantindo a diversão e o prazer do espectador. A sequência da digievolução está redesenhada sem perder a essência, utilizando-se também de computação gráfica para garantir maior impacto visual. A trilha sonora continua perfeita como de costume, com o tema Butterfly na abertura e Brave Heart nas digievoluções, e todos os outros temas menores estão presentes e o fã rapidamente vai se identificar. Aliás, os episódios estão recheados de fan service e dúvido que os fãs de Digimon não vão suar pelos olhos na abertura do primeiro episódio ou na primeira digievolução.

Mantendo a tradição de abordar temas maduros e universais, o que coloca o anime sempre um passo a frente de outros, Digimon Adventure Tri: Parte Um – Reunião é um ótimo recomeço para uma série  a qual todos esperavam que seu arco estivesse terminado há tempos. Se mantiver a qualidade e o embalo destes primeiros quatro episódios, o anime ainda trará muitas felicidades para os fãs.

INFORMAÇÕES

Titulo: Digimon Adventure Tri: Parte Um – Reunião

Gênero: Ação, Aventura e Ficção Científica

Criação: Akiyoshi Hongo
Direção: Keitaro Motonaga
Duração: 25 Minutos

Episódios: 4 (Quatro)

Elenco: Natsuki Hanae, Yoshimasa Hosoya, Suzuko Mimori, Matsumi Tamura, Hitomi Yoshida, Junya Ikeda, Junya Enoki e Mao Ichimichi.



Derek Moraes