[CONTÉM SPOILERS]
Sinopse: Para resgatar Han Solo (Harrison Ford) das mãos do mafioso Jabba, Luke (Mark Hamill) arquiteta um plano que envolve ainda a Princesa Leia (Carrie Fisher) e Lando Calrissian (Billy Dee Williams). Enquanto isso, Darth Vader (James Earl Jones) supervisiona a construção da segunda Estrela da Morte, esperando a chegada do Imperador Palpatine (Ian McDiarmid). Luke ainda precisa terminar seu treinamento Jedi com mestre Yoda (Frank Oz) se quiser derrotar o Império Galáctico e restaurar a democracia na galáxia.
Enfim a Trilogia Clássica chega ao seu episódio final gerando enorme expectativa nos fãs da saga e nos cinéfilos em geral. A esta altura Star Wars já era uma marca estabelecida na cultura pop e com potencial para gerar muitos outros produtos derivados, o que já estava acontecendo e iria acontecer cada vez mais a partir do lançamento deste Star Wars: Episódio VI – O Retorno de Jedi. George Lucas novamente entrega a direção para outro profissional, o galês Richard Marquand, e vê sua criação atingir o ápice de popularidade e impacto cultural em um ótimo filme, porém com mais falhas e irregularidades que os seus antecessores. Este novo longa consegue estabelecer um novo paradigma nas suas qualidades técnicas, fornece ao cinema novas sequências de ação e frases memoráveis (“It’s a trap!”) e expande ao máximo a mitologia da saga.
Richard Marquand tinha uma carreira curta antes do lançamento deste longa e, infelizmente, teve uma carreira curta depois também, já que morreu cedo aos 49 anos. Nenhum de seus longas é de conhecimento do grande público, embora tenha trabalhado com atores renomados como Jeff Bridges, Glenn Close e Donald Sutherland. Marquand não tenta imprimir uma marca neste Star Wars: Episódio VI – O Retorno de Jedi, sabendo que a marca com a qual está trabalhando é tão grande que possuiu personalidade e características próprias, sendo desnecessário modificar um time que está ganhando. No entanto, o galês consegue imprimir seu talento nas sequências de ação, resultando em sequências dinâmicas, complexas e grandiosas, como a batalha nos desertos de Tatooine, a batalha na órbita da lua de Endor e em suas florestas. São sequências difíceis de serem filmadas, envolvendo muitos figurantes e situações, mas o diretor consegue criar um clima dinâmico e fluído nas sequências. O mesmo talento o diretor demonstra nas sequências intimistas, como naquela em que Yoda faz uma importante revelação a Luke e Darth Vader revela seu verdadeiro rosto ao filho. São sequências densas, carregadas de sentimentos e o diretor consegue fazer com que não fiquem forçadas ou mesmo bregas.
As falhas do filme começam na sua narrativa. Praticamente uma hora da projeção é gasta com o plano de resgate de Han e suas consequências. A outra quase uma hora e meia é focada na tentativa final da Aliança Rebelde destruir a segunda Estrela da Morte. São duas narrativas que não se comunicam e não possuem relação entre si, dando a sensação ao espectador que são dois filmes diferentes dividindo espaço dentro de um. Há ainda a presença dos ewoks que acabam infantilizando a história. Possivelmente houve uma necessidade mercadológica (vender novos brinquedos) com um interesse de incluir as crianças mais novas como público alvo do longa. As criaturas, que não tem a sua espécie mencionada no filme só sendo possível sabermos disto a partir do universo expandido da saga, possuem importância na história, mas poderiam ser substituídas ou eliminadas do roteiro mudando-se algumas situações e acontecimentos, já que acabam descaracterizando o clima maduro e sombrio da série. Outro problema menor, mas que incomoda, é a insistente aparição de Obi-Wan como fantasma da Força para revelar algo de importante para Luke. Fica a impressão que se não fosse a ajuda do além, o jedi ficaria completamente perdido e não saberia o que fazer. Para finalizar, reutilizar a ideia da Estrela da Morte é de uma falta de criatividade absurda para uma série que prima pelas ideias inovadoras e pela qualidade de seus roteiros.
Mas nem só de falhas Star Wars: Episódio VI – O Retorno de Jedi é feito. Toda a sequência em que o Imperador Palpatine tenta converter Luke para o lado negro da Força é muito bem realizada conceitualmente, já que estimular a raiva no Jedi é o caminho mais fácil para a que a escuridão predomine. Criar um plano que depende do sucesso de outro plano é algo empolgante e narrativamente acertivo, estabelecendo tensão e desespero quando a frota rebelde chega para destruir a segunda Estrela da Morte e os escudos ainda não foram desativados pelas tropas que estão na floresta de Endor. Estabelecer Leia e Luke como irmãos, embora logicamente não fosse algo pensado por George Lucas desde o começo ou eles nunca teriam se beijado, é algo que funciona mais para estreitar as relações entre os dois e criar vínculos afetivos mais estreitos entre o trio de protagonistas. A batalha entre Luke e Darth Vader mais uma vez é bem dirigida e coreografada, mostrando o potencial máximo dos dois guerreiros. A redenção de Darth Vader é excepcional principalmente ao retratar que não há mal que sempre dure e que mesmo a pior das pessoas possui algo de bom dentro dela que só precisa ser estimulada para prevalecer.
Os efeitos visuais novamente chamam a atenção pela sua qualidade principalmente na batalha na órbita e na floresta da lua de Endor. Na órbita muitas naves diferentes são utilizadas e é possível verificar que cada uma possui sua particularidade tanto do lado dos rebeldes quanto do Império. Na floresta há três exércitos batalhando, envolvendo armadilhas e diferentes tipos de veículos e estruturas, onde os efeitos visuais são executados com primor. A densa floresta da lua de Endor é um ambiente simples, mas que facilita as estratégias utilizadas pelos exércitos. As casas nas árvores dos ewoks possui uma direção de arte eficiente, retratando ambientes minúsculos e estruturas simples de nativos sem domínio de tecnologia. O palácio de Jabba é otimamente concebido, com suas estruturas baixas, claustrofóbicas e povoado por alienígenas de diversas espécies. O departamento de maquiagem e figurino está inspirado ao criar estes alienígenas com diversidade, personalidade e presença de tela, por mais que alguns apareçam alguns segundos e nem possuam diálogos. A trilha sonora continua perfeita, com John Williams utilizando os já famosos temas de Star Wars na hora certa, pontuando o filme de ponta a ponta com maestria.
Mark Hamill está no auge de seu talento, interpretando Luke de maneira madura, sábia e que sabe o seu destino. O ator mostra domínio total de seu personagem principalmente nas cenas em que precisa convencer Darth Vader de que ainda há bondade dentro dele. Carrie Fisher é utilizada como objeto sexual em seu biquíni metálico durante boa parte do primeiro ato, criando um dos figurinos mais copiados e comentados de todos os tempos. Quando possui a chance de partir para a ação, a atriz não decepciona e mostra boa vontade e dedicação para que Leia cumpra sua última missão como uma das líderes da Aliança Rebelde. Harrison Ford volta a colocar seu charme em Han que possui mais importância na segunda metade do filme, mas suas habilidades táticas e sua adaptabilidade vindas de seu passado como contrabandista são exploradas à exaustão, mostrando a liderança nata que o personagem possui. James Earl Jones novamente está perfeito como a voz de Darth Vader, eternizando o personagem na cultura pop. Frank Oz como Yoda aparece pouco, mas a sua única aparição emociona o espectador pela sabedoria que o personagem demonstra diante de sua morte. Billy Dee Williams tem a chance de redimir Lando e é perfeitamente competente nisso, entregando um personagem voluntarioso e prestativo que consegue colocar o bem maior acima de seus próprios interesses. Ian McDiarmid é a principal adição ao elenco e mesmo coberto por uma pesada maquiagem o ator consegue transbordar antipatia, ódio e arrogância, criando o vilão do tipo que fica nos bastidores apenas realizando pequenas ações, mas que possuem consequências e alcance gigantes. Toda a construção do vilão foi bem realizada nos dois filmes anteriores, já que seu poder e influência sempre foram mencionados, mas nunca tinham sido mostradas, criando um medo e expectativa no espectador para o que estava por vir.
Star Wars: Episódio VI – O Retorno de Jedi encerra muito bem uma das trilogias mais importantes da história do cinema. Uma das sequências finais que mostra as comemorações pela queda do Império Galáctico em vários planetas é a imagem perfeita da importância e relevância que as ações de Luke, Han e Leia possuem. Já a importância que a trilogia possui para a sétima arte pode ser sentida até hoje, em que os acontecimentos que se passam em uma galáxia muito, muito distante são lembrados, copiados e referenciados em diferentes mídias, situações e lugares.
NOTA: 8,0