Crítica – Alien: Covenant

Alien Covenant prometeu em seus trailers a sensação de terror do filme clássico de 1979, mas com personagens fracos e Ridley Scott sofrendo da "Síndrome de George Lucas" o filme não cumpre sua promessa.5 min


[SEM SPOILERS]

Ridley Scott é extraordinário e disso ninguém discorda. Com grandes filmes, em crítica e bilheteria, para provar isso, tais como Blade Runner, Falcão Negro em Perigo, Gladiador e até mesmo o primeiro filme da franquia, Alien: O Oitavo Passageiro. Porém, em Alien: Covenant o diretor consegue trazer um filme que suga negativamente o mito do Xenomorfo, deixando no lugar uma trama rasa, entediante e profundamente decepcionante tendo em vista que “prometheus”, mas não “cumprius”, que este filme resgataria o clima de terror claustrofóbico do filme de 1979. Este novo filme mais parece só mais um genérico dos filmes “fake reboots” que vemos tomar conta do cinema de hoje.

Servindo como uma “continuação” direta para Prometheus, o filme aborda a viagem da tripulação da Covenant, uma nave colonizadora com destino a um planeta prestes a ser habitado. No meio do caminho há um misterioso acidente que faz com que o androide Walter (Michael Fassbender) acorde a equipe humana. Eles então descobrem um novo planeta mais próximo que pode servir aos mesmos propósitos que seu distante alvo.A partir daí uma equipe desce ao planeta e, após a infecção causada por uma misteriosa doença, eles descobrem o surgimento de um androide similar a Walter, chamado David, que é o único sobrevivente da nave de pesquisa Prometheus, desaparecida há dez anos. Mas tudo começa a dar errado quando o tenebroso Xenomorfo dá as caras, perseguindo os sobreviventes e causando mortes e destruição no caminho. Até, só por essa sinopse, dá para notar que o filme realmente não traz nem mesmo uma trama original. Scott sempre foi criativo, então é ruim vê-lo cair numa fórmula.

O filme é um pouso forçado com direito a muita turbulência e avarias em seu percurso. Talvez seu maior e mais aparente problema seja sua fraca, para não dizer medíocre, construção de personagens. Mesmo sendo um filme com uma proposta quase slasher, onde vemos cada um dos personagens ser morto após o outro, há uma construção tão falha que muitos deles sequer tem seu nome revelado. Eles não são construídos para que tenhamos uma ligação com eles e, pior, repetem o maior erro do primeiro filme desta nova trilogia: os humanos parecem burros frente ao desconhecido.

Ainda assim há quem se esforce. Katherine Waterston, que interpreta o papel de Daniels, é quem assume o protagonismo do filme e consegue entregar uma performance no máximo, razoável. Da mesma forma Michael Fassbender é o ator mais empenhado do longa, vivendo dois papeis muito diferentes. Porém, algumas decisões do roteiro e de direção acabam tornando seu esforço um tanto quanto vão.

A artificialidade, destas personas rasas e unidimensionais, é tamanha que as ações dos personagens não correspondem com suas personalidades e, embora – mais de uma vez – vejamos pessoas casadas perdendo seus maridos ou esposas, o peso emocional das mortes é tão impactante quanto as ações para se salvarem do Xenomorfo.

E grande parte dessa falha de personagens acaba ditando o rumo do roteiro do filme, que nunca sabe ao certo o que é. Seus dois primeiros atos são uma gigantesca exposição científica, com algumas pitadas de discursos pseudo-filosóficos, que acabam rendendo cenas estafantes e tediosas. Já o ato final é corrido, joga com uma dimensão atenuada de terror e ação e acaba de uma maneira previsível e mal-construída. A impressão que se passa, e esse dever ser o erro cabal de Scott, é que ele parece não ligar para a própria história, só tendo interesse em expandir o universo de Alien e, de um jeito bizarro, explorar a sua mitologia, expandindo o universo de maneira porca. Basicamente parece que o filme só feito para mostrar como é a gestão do Xenomorfo.

Mas se o diretor está tão empenhado em explicar o “LOR” de Alien por que, contraditoriamente, ele deixa inúmeras perguntas promovidas por Prometheus sem resposta? Em vez de mostrar o que aconteceu ao final do filme e tentar evocar algum sentido para sua realização, Covenant comete o erro de explicar ao público sem lhe mostrar, dando a ideia de que o filme anterior é completamente desnecessário para a franquia (a cena de flashback no meio do filme é tão forçada quanto desnecessária). Pior que isso apenas o fato de que, enquanto Prometheus ainda tinha uma base filosófica própria lançando questionamentos abertos ao debate, Covenant sequer abre esse espaço, ficando refém de uma trama de filosofia de botequim clichê, mal desenvolvida e serve apenas como um slasher espacial aleatório para encher linguiça.

Fora dos pontos principais do filme, podemos dizer que a fotografia é competente, criando uma textura própria e ressaltando tons de cinza, o que acaba ressoando bem na proposta visual do filme. Porém, há pouco para ser enquadrado pelas câmeras: o trabalho de ambientação, figurino e direção de arte é pouco inspirado, criando conceitos prontos e que já vimos sendo feito melhores em outros filmes, dentro e fora da franquia. A parte sonora também se esforça, e consegue ter mais sucesso na edição do que no próprio som, que é derivado e genérico, mas “costurado” com bastante clareza. Em termos de efeitos visuais o filme não consegue se mostrar satisfatório, criando cenas cansativas e que acusam o tempo todo da irrealidade de seus eventos.

Mesmo assim é impressionante como o próprio Xenomorfo é uma grande decepção visualmente e na sua narrativa. Ele tem uma nova “origem” confusa e complexa demais que tenta, mas falha, ao ser explicado pela “filosofia imatura” do filme. Sua movimentação é mecânica e artificial e aparece por muito menos tempo que o esperado e, o pior, tem cenas em campo aberto que rompe de vez com a grande característica de Alien de “acobertar seus monstros nas sombras”. Realmente, parece que Scott se importou em explorar o Xenomorfo, como se ele compensasse os erros crassos no resto do longa.

Podemos concluir que Alien: Covenant fica muito abaixo do filme de 1979 como experiência de horror e claustrofobia e, no fim das contas, acaba servindo a um propósito muito funcional de tapar lacunas que até hoje se preencheram com pavor e mistério. A sensação que se tem após esses dois últimos filmes, na mão de Ridley Scott, é que ele parece estar sofrendo da mesma maldição de outro diretor de clássicos espaciais, George Lucas: na ânsia de explorar mais seu universo e refazer algo clássico na forma de prequel, eles parecem ficar cegos ao fato que acima de um bom universo, vem uma boa história a ser contada. Sejam contadores de história, não arquitetos.

NOTA: 5,0

[youtube]https://www.youtube.com/watch?v=5incfB5jHWU[/youtube]

 

INFORMAÇÕES
Título: Alien: Covenant (Alien: Covenant)
Direção: Ridley Scott
Duração: 123 Minutos
Lançamento: Maio de 2017
Elenco: Michael Fassbender, Katherine Waterston, Billy Crudup, Danny McBride, Demián Bichir, Carmen Ejogo e Amy Seimetz.


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Ton Borges

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