Crítica – A 5ª Onda

6 min


[SEM SPOILERS]
Sinopse: Uma invasão alienígena em etapas acaba com grande parte da população da Terra assim como com toda a sua infraestrutura. Aguardando aquela que possivelmente será a etapa final da invasão, a 5ª onda, Cassie (Chloë Grace Moretz) tenta sobreviver juntamente com seu pai Olliver (Ron Livingston) e seu irmão Sammy (Zackary Arthur). Uma série de eventos acaba separando a família, fazendo com que Sammy seja treinado pelo Coronel Vosch (Liev Schreiber) para combater os alienígenas, juntamente com Ben (Nick Robinson). Enquanto isso, Cassie é ferida e salva pelo misterioso Evan (Alex Roe), mas fará de tudo para encontrar seu irmão.

5ª Onda é baseado no primeiro volume de uma trilogia de livros escrita pelo americano Rick Yancey e lançado em 2013. O segundo volume se chama O Mar Infinito e foi lançado em 2014 e o volume final, A Última Estrela, será lançado ainda este ano. 5ª Onda, com o perdão do trocadilho, pega onda nas últimas adaptações literárias bem-sucedidas no cinema que retratam futuros distópicos, cujo expoente maior é a série Jogos Vorazes (2012-2015). Todo o estúdio quer um Jogos Vorazes para chamar de seu, para fazer dinheiro com os filmes ambientados nestes futuros desesperançosos. A Sony também quer. E investiu um trocado na série de Rick Yancey. E foi um trocado mesmo. Apenas US$ 38,0 Milhões, uma mixaria se comparado ao custo do primeiro Jogos Vorazes (US$ 78,0 Milhões). Ou seja, a Sony quer ganhar dinheiro, mas investindo pouco, porque sabe que há chances de pegar um público saturado deste tipo de universo. Se der certo, ótimo, a Sony tem uma nova franquia no cinema. Se não… bem, ao menos o estúdio não investiu tanto. 

A escolha do diretor já começa errada. J Blakeson tem um currículo muito maior como roteirista do que como diretor. Este é apenas o seu terceiro filme na função. Nenhum dos outros filmes que Blakeson escreveu ou dirigiu são minimamente conhecidos. O inglês não tem personalidade e estilo próprio que o faça diferente da maioria. É um diretor de estúdio, aquele tipo que segue todas as diretrizes que seus chefes produtores definem, sem contestar, sem querer fazer algo diferente e memorável. Blakeson está apagado em 5ª Onda, nenhuma sequência é boa o suficiente para percebermos a sua mão, nenhuma interpretação tem destaque, nenhum ator está acima da média. Tudo muito mediano, pendendo para o ruim. Mas, felizmente, o longa entra nos eixos a partir da sua segunda metade, resultando em um filme mediano, mas que poderia ser pior.

A premissa de 5ª Onda é interessante e foge do comum. Normalmente invasões alienígena são retratadas com muita destruição, sequências grandiosas, esquecendo-se do lado humano e das consequências mais mundanas do que acontece. Focar no drama familiar em um contexto deste tipo é algo que, embora não inovador, é diferente. O ritmo da narrativa é pesado na sua primeira hora. Somos apresentados à Cassie e seu núcleo familiar e de amigos e o começo da invasão. Cada onda é mostrada, assim como o que acontece entre elas. As ondas já foram apresentadas no trailer e estão em destaque no cartaz do filme, sendo possível gastar menos tempo com as quatro primeiras ondas e focando naquela que dá nome ao longa, a quinta. Mas o filme gasta tempo demais nesta introdução, irritando o espectador que está mais interessado em entender mais sobre a invasão e os alienígenas. A ideia do Exército Americano recrutar crianças e adolescentes para combater não funciona, já que nenhum motivo lógico para isso é dado. Ver crianças e adolescentes no treinamento e nas batalhas, segurando armas e gritando comandos, não é algo agradável e, por não ter um embasamento interessante, acaba dando a sensação no espectador de algo forçado demais. O esquadrão comandando por Ben não é explorado, sendo composto por oito soldados, dos quais nos importamos  apenas com dois, fazendo com que a morte ou não dos outros pouco afete quem assiste ao longa. Os alienígenas também não são explorados e nem ao menos a sua forma ou seus objetivos são revelados. Há aquelas sequências que deixam o espectador irritado de tão absurdas, como aquela que se passa em um momento decisivo em que três personagens estão atrás de um quarto personagem, com soldados atrás deles em um prédio pronto para desmoronar, mas os três personagens têm tempo de conversar e discutir algumas coisas que envolvem ciúmes e o aparecimento repentino  de um deles.

Por sorte nem tudo é perdido em 5ª Onda. O terceiro ato é empolgante e acelerado na medida certa, com uma tensão no ar que funciona e uma sensação de urgência palpável. Há duas sequências de ação que funcionam bem, embora não sejam espetaculares. A primeira é a primeira missão do pelotão de Ben e a segunda uma sequência no meio da floresta escura em que determinado personagem acaba com alguns inimigos. São sequências bem filmadas e coreografadas, que acabam animando quem assiste. Mas talvez a melhor sequência do filme seja aquela em que Cassie utiliza o fio de um mouse para matar determinado personagem, mostrando, primeiro, coragem por parte da garota e, segundo, dando uma nova importância aos mouses sem fio. Há dois plot twists na trama, um deles funciona bem e outro não. E aquele que não funciona já é percebido pelo espectador lá no meio da narrativa com a seguinte pergunta que ele mesmo se faz: por que só o exército possui energia elétrica e veículos que ainda funcionam depois da invasão? 

Os efeitos especiais do longa são bem pobres, com as sequências em que há inundações causadas pelos alienígenas sendo aquelas em que mais pode-se ver a limitação orçamentária do longa. Obviamente, percebendo este fator, o diretor diminuiu drasticamente o número de sequências com efeitos especiais digitais, só utilizando-os quando realmente necessário. A trilha sonora é esquecível, dando a impressão que nem existe no longa. A direção de arte é caprichosa, principalmente nas sequências que mostram a destruição causada pela invasão e suas ondas, mostrando estradas com carros abandonados, carros capotados no meio da lama, estabelecimentos comerciais abandonados, tudo muito com o ar de The Walking Dead. A fotografia é eficiente, não utilizando muitas cores vivas e quentes, preferindo uma paleta mais saturada e cores frias, dando a sensação de gasto e de sujo, que é exatamente como o mundo se encontra naquele momento. 

O elenco do longa é desnivelado. Chloë Grace Moretz segura bem o papel de protagonista, não comprometendo na função. A atriz tem presença de tela suficiente para atrair a atenção do público. Embora ainda seja nova, a atriz está há anos na função, e precisava de uma franquia para chamar de sua, resta saber se será esta. Nick Robinson começa o filme de maneira monossilábica e com expressão de saco cheio, mas a partir da metade o ator e o personagem melhoram. O ator, que já havia mostrado potencial em Jurrassic World – O Mundo dos Dinossauros (2015), aqui ainda não consegue explodir de vez, mas é fato que Robinson pode melhorar muito na função. Ron Livingston tem pouco tempo de tela, mas consegue transmitir amor e proteção para com seus filhos de maneira eficiente, convencendo no papel, o que acaba aumentando o impacto do destino do personagem. Alex Roe é a grande revelação do longa, um ator praticamente desconhecido que possui um papel chave na narrativa, colocando um empenho físico e emocional digno de nota. Liev Schreiber está sem ter o que fazer no filme, interpretando um vilão que também não tem o que fazer. O personagem poderia ser melhor trabalhado, já que suas motivações parecem tão rasas que os tiros que ele dispara contra alguns personagens em fuga no último ato estavam destinados a errar seus alvos. Zackary Arthur é fraquinho como ator, não convencendo em nenhum momento o elo e o amor que ele e sua irmã Cassie possuem. O ator tem apenas 9 anos e o diretor fraco também não ajuda a melhorar sua interpretação.

Mesmo estreando em apenas sexto lugar na bilheteria americana, A 5ª Onda já arrecadou mundialmente o suficiente para se pagar. Resta saber se a bilheteria final do longa será o suficiente para garantir uma continuação. Se garantir, muita coisa precisa melhorar, principalmente na escolha do diretor e na elaboração de alguns personagens. Caso não garanta, será apenas mais uma adaptação literária a qual nunca saberemos suas próximas histórias através do cinema.

Nota: 6,0

TRAILER


INFORMAÇÕES

Nota: 6,0

Titulo Original: The 5th Wave

Titulo Nacional: A 5ª Onda
Direção: J Blakeson
Duração: 112 Minutos 
Ano de Lançamento: 2016
Lançamento nos EUA: 22/01/2016
Lançamento no Brasil: 21/01/2016


Elenco: Chloë Grace Moretz, Nick Robinson, Ron Livingston, Alex Roe, Liev Schreiber e Zackary Arthur.

 


Derek Moraes