Crítica – Batman: O Cavaleiro das Trevas: Parte 1

Terminando com uma ponta que já deixa o espectador ansioso pelo o que virá, Batman - O Cavaleiro das Trevas: Parte 1 adapta perfeitamente o material original de Frank Miller, entregando um filme eficiente, com um ritmo agradável, com personagens familiares, mas com novas perspectivas, e, acima de tudo, um Batman experiente que sabe o que está fazendo e sem medo de errar. 5 min


[SEM SPOILERS]

Sinopse: Dez anos após a última aparição do Batman, Bruce Wayne (Peter Weller) vive sua aposentadoria de maneira comum até que novos acontecimentos em Gotham City fazem com que o justiceiro mascarado seja novamente necessário. Contando com a ajuda do Comissário Gordon (David Selby), que vive seus últimos dias na função, e da nova Robin Carrie Kelley (Ariel Winter), Bruce precisa lidar com uma gangue de mutantes que assola a cidade e cujo líder (Gary Anthony Williams) promete causar o terror em Gotham, enquanto Harvey Dent (Wade Williams), o Duas Caras, tem alta do Asilo Arkham.


Batman – O Cavaleiro das Trevas é uma das histórias em quadrinho mais influentes de todos os tempos, tendo sido lançada em 1986. Escrita pelo mestre Frank Miller, a HQ atravessa gerações e chega aos dias de hoje mais relevante do que nunca, já que boa parte da trama de Batman Vs Superman – A Origem da Justiça (2016) foi baseada nesta obra. Retratando um Batman mais velho, amargurado e sofrido, Batman – O Cavaleiro das Trevas apresenta uma versão inédita do herói, mais sanguinária e sem pudores, exagerando na violência e sem medo das consequências. Uma repaginada no herói que rendeu diversos prêmios a Frank Miller e consagrou ainda mais Batman na cultura pop mundial. Em 2012 e 2013 a Warner lançou uma versão animada da história em quadrinho, porém dividida em duas partes, uma lançada em cada ano. A qualidade do material entregue pela Warner é incrível e realça ainda mais as qualidades da HQ.


Jay Oliva é um animador importante em Hollywood, tendo feito storyboards de diversas animações tanto da D.C. quanto da Marvel, tanto longas quanto séries infantis. Na função de diretor, Oliva trás toda a bagagem de super-heróis que possui e realiza um trabalho impecável nesta primeira parte. Na verdade a HQ de Frank Miller é um material tão rico narrativamente e visualmente que o trabalho de adaptá-la se torna fácil porque poucas mudanças são necessárias. Esta primeira parte aborda basicamente as ações de Harvey Dent depois que ele sai do Asilo Arkham e a gangue de mutantes, já deixando pontas abertas para a segunda parte, como o Coringa e a opinião pública não ser 100% a favor da volta do Batman e, consequentemente, de seus métodos. No meio de todas essas subtramas ainda temos a aposentaria do Comissário Gordon e o surgimento de uma nova Robin estimulada pelo exemplo e pela importância que a figura do Batman possui.


Acompanhar Bruce Wayne com uma idade avançada e cheio de traumas, de infância e depois de adulto, é interessante porque a figura do Batman nada mais é do que a válvula de escape para que o milionário não enlouqueça com seus problemas. É a maneira que Bruce Wayne encontrou de canalizar toda a sua raiva, angústia e frustração na tentativa de realizar algo positivo. E velho é normal que esses sentimentos negativos estejam mais a flor da pele do que nunca, culminando em um Batman agressivo, sanguinário e resoluto, não medindo esforços para, mais uma vez, limpar Gotham City dos vilões. Mesmo mantendo seu porte físico absurdamente ameaçador, Bruce não escapou da idade e é engraçado ver como ele se cansa mais rápido, como está mais lento e barulhento, causando espanto até mesmo nos vilões que se lembravam de um Batman silencioso e preciso. Mostrar Bruce mais velho e, consequentemente, mais vulnerável é o principal ponto para criar uma relação público-espectador mais rápido, já que torna o Batman, sempre o mais humano dos super-heróis, ainda mais humano e próximo de quem está assistindo. 


Depois de dez anos sumido o Batman já começa a se tornar mais lenda do que fato, aumentando o impacto quando ele volta à ativa. Todo o simbolismo do herói, que está na mente de quem viveu quando ele estava no auge, é revisitado neste longa. E isso é evidenciado quando, na primeira reaparição do herói, um policial diz para o seu parceiro mais jovem ‘Prepare-se para o show’. A nova Robin, Carrie Kelley, que ainda é uma adolescente e possivelmente não tinha visto Batman em ação, é ‘capturada’ pelo o que representa o herói, um símbolo de esperança em uma cidade corrompida até a alma e soa totalmente crível que a jovem queira ajudá-lo, ao mesmo tempo em que ele mesmo precisa dela, já que um trauma do passado, a morte violenta do último Robin Jason Todd, deixou um vazio com o qual Bruce Wayne tem dificuldade em lidar. 


Os vilões apresentados nesta primeira parte são eficientes ao proporcionar ao Batman uma gradual volta à ação. Primeiro Harvey Dent e depois a gangue dos mutantes. Principalmente com esta última é onde as maiores possibilidades artísticas são possíveis devido à maior quantidade de vítimas. Toda a sequência em que Batman invade o lixão com seu tanque de guerra é visualmente bonita e impactante  tematicamente por mostrar claramente que, na sua atual idade, o herói prefere se poupar fisicamente quando possível. Os dois confrontos com o líder da gangue são um show de coreografia, mostrando todo o potencial que dois físicos avantajados, um lento e outro rápido, possuem quando se enfrentam. O peso dos golpes, a precisão das manobras, tudo favorece dois confrontos agradáveis de se assistir.


A animação do longa é fluída e representa bem o design de histórias em quadrinhos, agradando quem assiste por referenciar imediatamente à HQ de Frank Miller. Como já é de costume, Gotham City é representada sempre escura, suja, mostrando visualmente toda a corrupção moral que assola a cidade. A montagem é agradável por apresentar a narrativa em um crescente, primeiro mostrando o Batman sofrendo para voltar à ativa e depois se acostumando devagar ao uniforme, tornando crível toda a situação do herói, sem forçar situações. A trilha sonora é eficiente, consegue mostrar o tom denso do filme, o tom de desesperança das pessoas e, o mais importante, a esperança que o retorno do Batman representa para a cidade. 


A dublagem brasileira é excelente principalmente por colocar Márcio Seixas como Bruce Wayne, um dublador com uma voz pesada, grave, que parece carregar um peso emocional maior que o habitual. Possivelmente é o melhor dublador para o Batman em desenhos animados no Brasil. Em longas live action fica difícil colocar Márcio como voz do personagem porque sua voz dificilmente combinará com os atores normalmente jovens que interpretam Bruce Wayne. Isaac Bardavid também está perfeito como o Comissário Gordon por carregar na voz toda a experiência e o respeito que o personagem emana. A única crítica ao longa é a repetição de dubladores para os personagens secundários. Pessoas com o ouvido treinado para as vozes dos dubladores conseguem perceber neste filme que um mesmo dublador dublou três ou quatro personagens secundários, causando uma certa estranheza.


Terminando com uma ponta que já deixa o espectador ansioso pelo o que virá, Batman – O Cavaleiro das Trevas: Parte 1 adapta perfeitamente o material original de Frank Miller, entregando um filme eficiente, com um ritmo agradável, com personagens familiares, mas com novas perspectivas, e, acima de tudo, um Batman experiente que sabe o que está fazendo e sem medo de errar. 

NOTA: 10,0

 

INFORMAÇÕES

Título: Batman – O Cavaleiro das Trevas: Parte 1 (Batman – The Dark Knight Returns: Part 1)
Direção: Jay Oliva
Duração: 76 Minutos 
Lançamento: 2012
Elenco: Peter Weller, Ariel Winter, David Selby, Wade Williams e Gary Anthony Williams. 






Derek Moraes