[SEM SPOILERS]
Sinopse: Uma nave tripulada, contendo uma família como passageiros, cai na lua de Endor, lar dos ewoks. O pai Jeremitt (Guy Boyd) e a mãe Catarine (Fionnula Flanagan) são sequestrados pelo monstro Gorax. Para resgatá-los, os filhos Mace (Eric Walker) e Cindel (Aubree Miller) irão se unir aos nativos em uma jornada através da lua de Endor.
Depois do fim da Trilogia Clássica de Star Wars no cinema, o público se viu órfão do maior fenômeno cultural da época, pelo menos em relação aos filmes, já que livros, jogos de video game e séries de televisão tendo a saga espacial como tema continuaram sendo produzidos. Para saciar momentaneamente esta necessidade, George Lucas teve uma das ideias mais caça-níqueis da história do cinema: colocar os ewoks, que tinham aparecido com bastante destaque em Star Wars: Episódio VI – O Retorno de Jedi, em um longa só deles, com uma história ruim, um elenco sofrível e efeitos especiais de segunda categoria. Fica difícil saber o que veio antes: se Lucas criou os ewoks já com a ideia de utilizá-los posteriormente ou se a partir do sucesso dos ewoks com as crianças no último filme da Trilogia Clássica o diretor teve a ideia de um filme solo das criaturas. O resultado, deixando-se de lado toda a nostalgia que o longa pode trazer por ter sido repetido à exaustão na Sessão da Tarde, é um filme ruim e sem ritmo que só não é um desastre porque seu último ato é bem realizado e relativamente dinâmico.
Embora tenha sido de George Lucas a ideia de realizar o filme Caravana da Coragem, o diretor passou a função de direção para John Korty, evitando assim que qualquer possível desastre em relação ao longa caia sobre ele mesmo. Mas fica difícil culpar John Korty pelo resultado final, já que o maior problema do filme é seu roteiro escrito pelo próprio George Lucas e Bob Carrau. Korty era um diretor mais voltado para a televisão, tendo dirigido muitos filmes voltados para esta mídia. O diretor realiza neste longa um trabalho digno em relação à sequência de ação final, mas erra na escolha do ator que viveu o protagonista, limitado tecnicamente. No resto do longa, consegue dirigir o filme de maneira razoável, fazendo o possível para extrair o máximo do material que tem em mãos.
Levando-se em conta o universo de Star Wars criado nos anos anteriores, neste Caravana da Coragem estão presentes apenas dois elementos: os Ewoks e a lua de Endor, o que pode ter levado os fãs que esperavam ver mais elementos da saga neste longa a ficarem insatisfeitos e se sentirem frustrados. Fica difícil avaliar este fato para alguém que nasceu no final dos anos 80 como eu, mas imagino que na época o filme tenha sido vendido para o público como pertencendo ao universo de Star Wars e teria sido este o fator motivador para que ele fosse assistido. A história é banal e possui um ritmo arrastado. Muito tempo de projeção é gasto com o fato da personagem Cindel ficar doente e precisar que os ewoks preparem um remédio natural para ela, dando sono no espectador. Os ewoks não aparecem de maneira tão numerosa quanto em Star Wars: Episódio VI – O Retorno de Jedi, dando a impressão que estão em extinção. A origem da família de humanos nunca é mencionada, nem seu sobrenome, o que causou o acidente e para onde estavam indo. Algumas das armas dadas para os integrantes da caravana nunca são utilizadas. A necessidade de um narrador para passar as informações ao espectador que estão sendo colocadas em língua ewok é algo que incomoda, já que a voz surge do nada muitas vezes durante o filme. As personalidades das criaturas não são exploradas e fisicamente elas são muito parecidas, fazendo com que o espectador não se importe com nenhuma delas. O longa gasta tanto tempo com sequências que não acrescentam em nada à trama, que mais tempo de projeção poderia ser utilizado para dar personalidade e características aos ewoks principais, criando uma relação mais próxima entre espectador e personagem.
Os efeitos especiais utilizados no longa são sofríveis mesmo para a época, criando algumas criaturas difíceis de aceitar como aquela que ataca os irmãos e os ewoks na floresta que parece uma mistura de rato com lobo e as criaturas vaga-lumes que, de longe são tecnicamente bem realizadas, mas de perto repetem os mesmo movimentos eternamente. Gorax possui uma maquiagem pesada para a sua concepção, mas ao menos o vilão tem uma fisionomia intimidadora. A direção de arte não tem muito o que fazer aqui a não ser repetir tudo o que já foi mostrado em relação aos ewoks como a vila com suas casas das árvores e o interior simplório e tribal das residências das criaturas. A caverna do vilão é bem retratada, dando certa personalidade ao personagem. A trilha sonora em nada lembra a da saga espacial, sendo esquecível e praticamente inerte durante toda a projeção. O figurino é discreto, já que a maior parte dos personagem são ewoks que andam sem roupa, com no máximo um capuz. O destaque fica por conta do figurino do personagem Mace que é uma cópia descarada do traje dos pilotos rebeldes de X-Wing da Aliança Rebelde na Trilogia Clássica. Se ao menos tivesse um motivo para o personagem se vestir daquele jeito, mas a cópia não se justifica e fica claro que a intenção era enganar o público, fazendo-o acreditar que haveria alguma relação entre este longa e a saga espacial.
Como possui um ritmo lento, pouca coisa em termos de ação acontece no longa. A única sequência de ação que se salva é a que acontece no terceiro ato, onde as diferentes habilidades dos ewoks são utilizadas, criando uma sequência bem trabalhada e realizada, com um ritmo melhor e mais dinâmico do que o resto da narrativa inteira. Ao menos esta sequência final deixa uma última impressão melhor do longa inteiro.
Os irmãos são interpretados por dois atores que eram e continuaram desconhecidos depois do lançamento deste filme. Eric Walker interpreta um personagem irritante e insuportável de tanto que reclama durante todo o longa. O ator é limitado, não conseguindo colocar muita personalidade no personagem e explorar melhor o pouco que o roteiro oferece. Sua escolha se deve, possivelmente, à incrível semelhança física que possuía com Mark Hamill, o Luke Skywalker da Trilogia Clássica. Juntando o corte de cabelo, com o rosto e o figurino, o personagem se apresenta de tal maneira que o público mais desavisado pode achar que está vendo uma versão infantil de Luke. Outra enganação do longa. Aubree Miller, como qualquer criança de quatro anos à época das filmagens, é limitada pela própria idade, que impossibilita a atriz a dar mais peso e relevância à personagem. De qualquer maneira, Cindel é escrita de maneira tão superficial que seria difícil para qualquer atriz interpretar de maneira competente independente da idade. Fionnula Flanagan e Guy Boyd aparecem apenas duas vezes no longa, não tendo muito tempo para fazer muita coisa, pelo menos não comprometem e interpretam com competência seus personagens que possuem pouco tempo de tela. O resto do elenco fica sob o peso dos figurinos de ewoks, sendo difícil uma avaliação já que quase nada que os personagens transmite ao espectador é devido aos atores.
Mostrando mais uma vez que George Lucas possui uma ótima capacidade de fazer dinheiro em qualquer oportunidade que apareça, o que evidencia ainda mais suas habilidades de empresário, Caravana da Coragem deve ficar quieto e guardado nas lembranças de quem era criança nos anos 80 e 90 e assistiu ao longa, não devendo ser revisitado e nem apresentado às novas gerações.
Nota: 3,0
Titulo Nacional: Caravana da Coragem
Direção: John Korty
Duração: 96 Minutos
Ano de Lançamento: 1984
Lançamento nos EUA: 25/11/1984
Lançamento no Brasil: Direto para VHS
Elenco: Eric Walker, Aubree Miller, Fionnula Flanagan e Guy Boyd.
Elenco: Eric Walker, Aubree Miller, Fionnula Flanagan e Guy Boyd.