[SEM SPOILERS]
Sinopse: Riley (Kaitlin Dias) está de mudança junto com seu pai (Kyle MacLachlan) e sua mãe (Diane Lane). Estão deixando Minnesota, onde Riley tem amigos, faz parte de um time de hóquei e está totalmente ambientada, e se mudando para São Francisco, na Califórnia, um ambiente estranho para uma garota de 11 anos. É nesse contexto que as cinco emoções básicas de Riley entram em ação para facilitar a adaptação da garota à nova cidade. Alegria (Amy Poehler), Tristeza (Phyllis Smith), Medo (Bill Hader), Raiva (Lewis Black) e Nojinho (Mindy Kaling) vão fazer o possível para que Riley se saia bem. O problema começa quando Alegria e Tristeza são jogadas para fora da Sala de Comando e, contando com a ajuda do amigo imaginário de Riley, Bing Bong (Richard King), precisam voltar antes que algo pior aconteça.
A Pixar sempre foi considerada o estúdio de animação mais criativo de Hollywood. Durante vinte e cinco anos o estúdio dominou a arte da animação, unindo técnica excepcional com histórias de apelo para todos os públicos. Nestes últimos anos, no entanto, ao produzir algumas continuações de seus longas o estúdio acabou caindo na mesmice de estúdios como DreamWorks e Blue Sky. Ao longo de sua história (quase trinta anos) a Pixar produziu quinze longas. Temos o fraco Carros 2 (2011); o regular Carros (2006); os bons Vida de Inseto (1998), Valente (2012) e Universidade Monstros (2013); os ótimos Toy Story (1995), Toy Story 2 (1999), Monstros S.A. (2001) e Procurando Nemo (2003); os excelentes Os Incríveis (2004), Ratatouille (2007), Up – Altas Aventuras (2009) e Toy Story 3 (2010); e a obra-prima Wall-e (2008). Primando sempre pela originalidade de seus roteiros, toda a vez que a Pixar anuncia uma continuação de seus longas é uma decepção. Todos querem ver a Pixar com idéias novas, brilhantes, conceitos intrigantes e personagens originais. Mesmo com os filmes Procurando Dory (2016), Toy Story 4 (2017), Os Incríveis 2 (sem data) e Carros 3 (sem data) programados para serem lançados no futuro, é ótimo saber que o estúdio ainda tem ideias para filmes originais. E Divertida Mente é nada menos que excelente.
O conceito de Divertida Mente é absolutamente genial. O filme traduz de maneira didática e lúdica tudo o que se passa na mente humana. As explicações dadas para as memórias de curto prazo, memórias de longo prazo, memórias descartadas, memórias base, sentimentos, imaginação, subconsciente e sonhos conseguem atingir todos os públicos de todas as faixas etárias. Todo esse contexto ainda é ajudado pela maravilhosa direção de arte que nos oferece cenários magníficos, como o labirinto das memórias de longo prazo, o vale das memórias descartadas, a cidade da imaginação e os estúdios de sonhos. Tudo é muito colorido e atraente, justamente para que o espectador entenda o que se passa na tela e para que tudo fique visualmente atraente para as crianças. O design das emoções também é perfeito. Desde Alegria com seu vestido verde com raios de luzes até sua própria pele reluzente, passando pela Tristeza aparentemente sufocada na sua malha de lã e sua gola rolê, Medo usando roupa social conservadora, seus olhos esbugalhado e seu biotipo esguio, Raiva com sua cor vermelha, sua cabeça que solta fogo e seu tamanho diminuto e Nojinho verde (cor normalmente associada à sujeira), produzida, elegante e com o penteado irretocável. Divertida Mente é de encher os olhos do começo ao fim.
O diretor Peter Docter é um veterano da Pixar, tendo trabalhado em diversas produções como animador, diretor executivo ou diretor. Havia dirigido anteriormente Monstros S.A. e Up – Altas Aventuras e consegue imprimir em Divertida Mente um ritmo ágil e eletrizante. Embora a história demore a se desenvolver, já que o diretor utiliza um tempo do longa para explicar todo o funcionamento daquele universo, em nenhum momento o espectador se sente entediado ou vendo mais do mesmo. Sempre há um cenário novo ou conceito novo sendo apresentado, o que acaba prendendo a atenção. A duração relativamente curta também ajuda a não existência de cenas desnecessárias no longa. O principal acerto do diretor é não incluir personagens desnecessários. Apenas enfocando o núcleo familiar, as emoções e o amigo imaginário de Riley, a história se torna fluída e conseguimos ver e entender melhor como é a dinâmica daquele universo. A própria Riley é carismática e cheia de energia, e rapidamente o espectador se relaciona com os problemas da garota. Seus pais são tradicionais com problemas tradicionais e o filme não faz de nenhum deles o vilão da história, sendo que não existe um no filme, o que é um acerto, porque o que é mais interessante é o que se passa dentro da cabeça da Riley.
A mensagem que o filme transmite também é relevante. Em um primeiro momento, cada emoção da mente da Riley quer ter o controle, sendo Alegria a líder daquele ambiente. Evitando entrar em spoilers, mas ao longo da projeção as emoções começam a perceber que embora cada uma tenha sua função dentro da mente da garota, agindo em determinadas situações, todas são complementares. Não há alegria sem tristeza, tristeza sem medo, etc. Outras particularidades também chamam a atenção. A mesa de comando das emoções dos pais da Riley são mais organizadas e menos anárquicas, ou seja, aquelas emoções já entenderam o conceito de complementariedade.
A dublagem nacional é eficiente mesmo com a presença de famosos dublando as emoções. Miá Melo (Alegria), Katiuscia Canoro (Tristeza), Otaviano Costa (Medo), Léo Jaime (Raiva) e Dani Calabresa (Nojinho) não comprometem o filme e em alguns casos até chegam a fazer um trabalho bom e orgânico, como no caso de Miá. O longa é precedido por um curta-metragem, como é tradicional dos filmes da Pixar, chamado Lava. O curta é um dos mais fracos já produzidos pelo estúdio, principalmente levando-se em conta o roteiro. Trata-se de um vulcão que gostaria de ter uma parceira para passar a eternidade. Passam-se os anos e ele fica menor e sozinho. Toda a história é narrada por uma música que não encanta.
Mostrando que as mentes criativas da Pixar, comandadas pelo mestre John Lasseter, ainda podem produzir muito material bom, original, com conceito e genial, Divertida Mente, que possui dois anos de intervalo desde o último filme da Pixar (tempo necessário para que Lasseter colocasse a casa em ordem), é um filme cativante e criativo. Deve ser visto nos cinemas com as crianças, que com certeza ficarão encantadas com Riley e suas emoções.
NOTA: 9,0
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