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Crítica - Independence Day: O Ressurgimento | INVADER

Crítica – Independence Day: O Ressurgimento

Com um final que deixa uma ponta para futuras continuações, Independence Day - O Ressurgimento parece disposto a não esperar mais vinte anos para ter uma continuação...8 min


[SEM SPOILERS]

Sinopse: Vinte anos depois da primeira invasão alienígena à Terra, a humanidade evoluiu política e socialmente. Jake (Liam Hemsworth) e Charlie (Travis Tope) trabalham na base lunar, enquanto Dylan (Jessie Usher) é capitão do esquadrão de elite da Força Aérea americana e Patricia (Maika Monroe) trabalha na Casa Branca. Uma segunda invasão, prevista pelo ex-presidente Thomas (Bill Pullman), faz com que seus caminhos  cruzem o dos heróis que venceram os alienígenas em 1996, como os cientistas David (Jeff Goldblum) e Brakish (Brent Spiner), e, com a ajuda do general Joshua (William Fichtner), tentarão deter o fim do mundo.

Sejamos honestos: até que demorou para Independence Day (1996) ganhar uma continuação. Vinte anos é muito tempo entre dois filmes do mesmo universo. Tirando excessões, como os dezesseis anos que separam a segunda e a terceira parte de O Poderoso Chefão (1974 e 1990), normalmente poucos anos servem de intervalo entre um filme e outro por um motivo simples: não deixar que a série de filmes caia no esquecimento. Lançado em 1996 o longa arrecadou mundialmente mais de US$ 817,0 Milhões, sendo a maior bilheteria do ano, para um orçamento de US$ 75,0 Milhões, catapultou a carreira de um dos maiores astros da atualidade, Will Smith, foi repetido à exaustão na televisão aberta brasileira e é um filme inovador em termos de efeitos especiais. Planos para a sua continuação existem há muito tempo em Hollywood, mas nunca houve um consenso entre bom roteiro, disponibilidade na agenda do diretor Roland Emmerich, retorno de Will Smith e o retorno da maior parte do elenco original. Quando a Twentieth Century Fox percebeu que 2016 estava chegando, nada melhor do que comemorar vinte anos de um de seus maiores sucessos lançando a sua continuação, o estúdio precisou tomar algumas decisões para colocar a produção em andamento. E aquela que mais chama a atenção do espectador é a ausência de Will Smith, que não retorna nesta continuação por um motivo claro: seu salário inflacionária o orçamento de US$ 165,0 Milhões do longa. E sejamos honestos novamente: o carisma e o talento de Will Smith são adições que sempre elevam o nível do elenco de qualquer filme.

O diretor alemão Roland Emmerich é conhecido em Hollywood por ser especialista em filmes catástrofes. O alemão já colocou um monstro para destruir Nova Iorque no regular Godzilla (1998), destruiu os Estados Unidos no bom O Dia Depois de Amanhã (2004), destruiu o mundo no também bom 2012 (2009), além de também ter colocado os alienígenas para destruir o planeta no bom longa original de 1996. Emmerich sabe como filmar catástrofes, sabe impressionar o espectador com aquilo que está sendo mostrado na telona, consegue transmitir uma sensação de impotência do ser humano diante da natureza ou outras forças só, para depois, evidenciar nossa constante capacidade de superação e união. Seus filmes possuem meio que uma fórmula estabelecida que funciona para este tipo de gênero, principalmente os vários núcleos de história que, de imediato, começam com ações independentes, para que, depois, se unam para combater a adversidade que se apresenta. O diretor gosta de mesclar elenco experiente com novas promessas, além de colocar um humor em seus filmes que funcionam na medida certa para mostrar que, no fundo, aquilo tudo é uma grande diversão para entreter quem está do lado de cá da telona. Neste Independence Day – O Ressurgimento a fórmula é a mesma, no entanto o diretor, que também é um dos roteiristas do filme, consegue algo interessante ao revisitar um universo que originalmente é seu: expandir sua mitologia e sua história.

Logo no início do filme o espectador consegue ver como a humanidade evoluiu a partir das experiências de 1996. Através da engenharia reversa realizada na tecnologia alienígena foi possível um salto gigante na tecnologia da humanidade, principalmente nos campos bélicos e espaciais. E a união necessária para que a Terra saísse vitoriosa na primeira invasão permaneceu durante os anos seguintes, proporcionando uma época de paz sem precedentes na história da humanidade. A inserção de novos elementos sobre os alienígenas que invadiram o planeta em 1996 enriquecem a narrativa, como o motivo de terem vindo à Terra vinte anos atrás e o aparecimento de uma outra espécie inimiga dos primeiros e aliados da raça humana. A duração menor do filme, 120 minutos contra os 145 do longa original, garantem uma narrativa mais dinâmica e com menos voltas, apresentando rapidamente a ameaça, arquitetando um plano de contra-ataque e a colocação desse plano em prática, gerando um ritmo que mantém a energia no alto e não cansando o espectador. A criação do conflito, em particular, dura todo o primeiro ato e é bem construída, gerando uma tensão que empolga, embora o espectador já saiba que uma segunda invasão é iminente. Todo o arco envolvendo a nova raça alienígena é muito interessante de ser acompanhada por abrir novas possibilidade narrativas não só para esse filme, mas, principalmente, para as suas possíveis e planejadas continuações. Em termos de destruição o filme até que consegue se controlar, existindo apenas uma grande sequência que envolve o pouso da nave alienígena na Terra, sendo que todo o resto das sequências de ação possuem uma escala menor.

O elenco inchado e a curta duração de um filme são dois elementos que não andam juntos, a não ser que grande parte dos personagens faça apenas participações pontuais na história, caso contrário, a maioria dos personagens irá sobrar na narrativa. Em Independence Day – O Ressurgimento ocorre o oposto. Há personagens demais que aparecem no início da projeção e permanecem durante toda a narrativa, apenas fazendo volume e tomando tempo de outros personagens mais interessantes. Há uma cientista francesa, interpretada pela atriz Charlotte Gainsbourg, que passa pela história sem uma contribuição que justifique sua presença, caso semelhante ocorre com um líder tribal africano e um insuportável burocrata americano que, inexplicavelmente, está no filme para pedir explicações sobre as verbas públicas que estão sendo utilizadas pelo personagem David. É estranho também como apenas os Estados Unidos lançam uma ofensiva contra os alienígenas, principalmente se levarmos em consideração o conceito de união entre os países que o filme tanto enfoca, mas que, na hora do desastre, a participação de outros países se resuma a seus líderes em monitores. Há situações que carecem de explicações melhores, como a não participação do personagem de Will Smith, que é justificada em um simples diálogo que pode passar despercebido pelo espectador mais distraído e o passado entre os personagens Dylan e Jake que também não é claramente explicado. Algumas sequências são forçadas ao extremo, como o filho ver a mãe morrer em uma situação que envolve coincidências que beiram o absurdo e o ex-presidente americano se livrar da bengala no momento mais conveniente da narrativa. Também há uma personagem chinesa que claramente está na narrativa para atrair o crescente público de cinema da China, mas que na história o máximo em que consegue contribuir é sendo interesse romântico do personagem Charlie.

O grande chamariz de público deste filme são os seus efeitos especiais e a boa notícia é que eles são tão perfeitos quanto aqueles do longa de 1996 eram para a sua época. Em particular a sequência de pouso da nave alienígena na Terra é visualmente atraente e bem realizada, mostrando toda a magnitude do que está acontecendo e suas consequências. Vez ou outra vez a computação gráfica falha na criação dos cenários de fundo, como quando diversos personagens estão em um hangar e é absurdamente claro que todo o fundo daquele cenário foi feito no computador, mas nada que incomode ou mesmo tire o espectador do filme. As sequências de ação funcionam e são bem dirigidas, além de serem dinâmicas e enérgicas o suficiente para prender a atenção do público, em particular a sequência que se passa nos arredores da Área 51 e que envolve um alienígena no meio do deserto, criando uma contraposição de peças interessante de ser observada. A trilha sonora é grandiosa como o filme exige e consegue pontuar a narrativa de maneira eficiente e em alto nível. A direção de arte ganha pontos pela criação de naves e instalações, como o rebocador operado por Jake e a base lunar, além da monumental nave principal alienígena. A fotografia funciona muito como aquela vista no filme de 1996, fazendo com que cores frias sejam utilizadas para retratar o interior da nave alienígena.

Fica claro logo no início da projeção que o principal objetivo deste longa é apresentar uma nova geração de protagonistas que, se tudo der certo, irá carregar os próximos filmes e também trazer de
volta persongens do filme original para agradar ao espectador mais saudosista que sente seguro e confortável por estar vendo os mesmos personagens novamente, acompanhando como suas vidas estão agora vinte anos mais tarde. No entanto, isso acaba criando um contraste que fica evidenciado no personagem de Judd Hirsch, que novamente interpreta o pai de David. O personagem não tem função alguma na narrativa e, para piorar, a partir da metade da projeção se encarrega de proteger um grupo de crianças abandonadas que também não interferem no andamento da história. Ou seja, é um desperdício de tempo que poderia ser gasto no desenvolvimento dos potenciais novos protagonistas que são precariamente estabelecidos.

Liam Hemsworth consegue fugir de sua eterna função de coadjuvante apático e, do trio de novos protagonistas, é de longe o mais competente em conseguir estabelecer seu personagem. O ator consegue estabelecer Jake como alguém impulsivo, orgulhoso, corajoso e voluntarioso, ganhando rapidamente a boa vontade do espectador. Jessie Usher entrega uma interpretação preguiçosa, sem alma, cujo ápice é um discurso enfadonho e desprovido de empolgação e convicção que seu personagem precisa fazer para sua equipe. Usher precisa se provar melhor ator para ter uma carreira que não se sustente apenas na televisão. Maika Monroe não tem carisma algum e sua personagem quase passa toda a narrativa sem função alguma além de zelar pelo querido pai e pelo amado noivo. Combinação de uma atriz apática com uma personagem quase submissa demais é uma receita infalível para o seu esquecimento. Travis Tope consegue divertir como Charlie, melhor amigo de Jake, principalmente no primeiro ato. Depois seu personagem é deixado em segundo plano, mas o ator consegue cumprir bem seu papel de coadjuvante funcional, pecando apenas na tentativa do roteiro de sabotar o personagem pela sua constante necessidade de se relacionar com uma mulher. Bill Pullman está bem como o ex-presidente americano que é constantemente perturbado por alucinações causadas pela sua conexão com os alienígenas, conseguindo cumprir bem a função de neurótico de guerra que precisa passar um aviso à humanidade, mas também partindo para a ação quando necessário. Jeff Goldblum está ótimo novamente como o cientista que tenta entender os alienígenas e montar uma ofensiva contra eles. Goldblum consegue ser crível quando passa as informações científicas, garantindo credibilidade ao seu personagem. Brent Spiner é o grande alívio cômico do longa interpretando o cientista que se sente fascinado pela invasão e pelos invasores e que, instintivamente, quer entrar em contato com eles. William Fichtner está eficiente no papel que parece que sempre interpreta: o de militar. Mas seu personagem, que começa discreto, tem uma evolução em termos de importância que acaba por justificar sua presença na narrativa.

Com um final que deixa uma ponta para futuras continuações, Independence Day – O Ressurgimento parece disposto a não esperar mais vinte anos para ter uma continuação. No concorrido verão americano o longa deve faturar alto e mostrar potencial para o estabelecimento de mais uma franquia nos cinemas. Pelo menos é isso que a Fox espera. Só não custa nada melhorarem o roteiro para dar mais importância a personagens relevantes, eliminar aqueles que fazem volume na narrativa e escolher atores mais competentes para os protagonistas. Mas o futuro da franquia nos cinemas é promissor graças ao upgrade que seu universo recebeu.

NOTA: 7,0

INFORMAÇÕES
Título: Independence Day – O Ressurgimento (Independence Day – Resurgence)
Direção: Roland Emmerich
Duração: 120 Minutos
Lançamento: Junho de 2016
Elenco: Liam Hemsworth, Jeff Goldblum, Bill Pullman, Maika Monroe, Jessie Usher, Travis Tope, Brent Spiner e William Fichtner.


Derek Moraes