SEM SPOILERS
Luke Cage prometia ser uma série de super-herói ousada. Trataria de temas importantes e atuais, dava a entender que a violência policial, que está altamente sendo debatida nos EUA por mortes de jovens inocentes, teria muito destaque. Ao ser divulgado o elenco grande expectativa foi criada. Com a maioria do elenco composta por atores negros estava quase certo que seria um marco nas séries. Infelizmente isso não aconteceu. A Netflix não tem medo de ousar em suas séries, o que nos leva a crer que a diretoria da Marvel decidiu não explorar esses temas “polêmicos”. E quem perdeu fomos nós, os fãs.
Luke Cage é a terceira série da Marvel a ser produzida pela Netflix. Luke apareceu primeiro em Jessica Jones e não foi bem trabalhado, o personagem em si não apareceu. Nenhuma das características dele estavam lá, ele aparece em sete episódios e em nenhum é possível reconhecer o personagem. Em 5 minutos na sua própria série as características marcantes dele estão lá, como a marra e confiança.
A trama de Luke Cage começa algum tempo depois do final de Jessica Jones. Luke agora mora no Harlem e trabalha em uma barbearia e como lavador de pratos na boate de Cottonmouth, do chefe da máfia local. Ele tenta ficar escondido sem chamar atenção, mas acontecimentos o fazem sair do anonimato e entrar rota de colisão com Cottonmouth.
As séries da Netflix estão sofrendo do mesmo problema. Demolidor (segunda temporada), Jessica Jones e Luke têm sérios problemas de alongamento de roteiro. O modo que escolheram contar a história foi num ritmo mais devagar, até aí tudo bem, é uma escolha pra se desenvolver o enredo, personanges e etc. O problema começa quando não se tem enredo para se desenvolver. Luke Cage claramente não precisava de 13 episódios, de 7 a 9 seriam mais que suficientes para não se tornar cansativo como foi.
A primeira metade da série desenvolve personagens, a história e resolve o arco criado e termina até de uma forma surpreendente. Nessa parte a série foi bem. Estabeleceu as motivações e ambições dos personagens. O problema começou a partir do episódio 8 que a história passa a ser esticada absurdamente e com soluções fracas.
Uma coisa que não se pode reclamar em Luke Cage é a ambientação. O Harlem corria o risco de se tornar um genérico de Hell´s Kitchen, mas isso não aconteceu. O Harlem tem vida própria, grande parte devido aos “moradores” que dão um toque único que Hell´s Kitchen não possui. A música é um fator importantíssimo, em 8 dos 13 episódios acontece uma performance musical. A trilha da série é um caso a parte. Nos momentos em que vai acontecer alguma cena de ação envolvendo Luke uma trilha emulando as trilhas dos filmes da Blaxplotation se torna característico e contagiante.
Falando em cenas de ação, assim como Jessica Jones, elas são mal feitas. Alguns movimentos em algumas delas são interessantes de se ver, mas a grande maioria é bem fraca. Luke possui força sobre humana, ele não precisa socar para derrubar alguém, ele dá uns tapas, tem momentos que os tapas são bem executadas que dão a sensação de força, mas em outros ficam extremamente mal feito, ao melhor estilo Bud Spancer.
As atuações estão interessantes. Os destaques ficam com Mahershala Ali que está muito bem como Cottonmouth. Ele tem uma arrogância que passa com seu olhar e principalmente nos momentos que ele ri (e que risada!), onde sua arrogância transborda. Seus monólogos, como se tornaram característica dos vilões das séries da Netflix em parceria com a Marvel, são excelentes. Outro ponto interessante é que, assim como Wilson Firsk, Cottonmouth é explosivo e imprevisível, o que resulta em cenas improváveis. Simoni Missick rouba a cena como Misty Knight. Ela consegue passar a força que Misty tem com a mesma qualidade que mostra os momentos de fraqueza. Rosario Dawson volta reprisando seu papel como Claire, tendo mais destaque que em suas outras participações. Ela tem se tornado o ponto de ligação das séries, meu medo é que o motivo da união dos Defensores seja a morte dela. Por outro lado a atuação de Mike Colter é bastante instável. Agora não da para se saber se o problema é ele ou a direção, porque em alguns momentos ele passa toda marra que o Luke tem, mas nos momentos de drama ele não tem expressão. Um erro grotesco da Marvel foi reutilizar a atriz Alfre Woodard. Se você não sabe/lembra, ela foi a mãe do jovem morto na batalha de Sokovia que confronta Tony Stark em Capitão América: Guerra Civil. Quando ela foi anunciada a internet achava que ela reprisaria a personagem, mas ela interpreta uma personagem totalmente diferente. Ela interpreta a Black Mariah, prima de Cottonmouth e vereadora da cidade. Ela está ligada às atividades criminosas de Cottonmouth. Sua atuação é um caso a parte, sua escalada de negação até assumir a criminalidade da família é um ponto alto da trama.
Luke Cage tinha tudo pra ser um marco nas séries de super-heróis, poderia até se tornar um documento histórico ao retratar o abuso policial em bairros mais humildes. Mas não, tudo que vemos são pequenas referências a casos reais. Como Luke usar capuz, sendo referência a Trayvon Martin, jovem que foi morto em uma situação controversa. Outra referência de abuso foi o interrogatório onde um polical, em busca de informações, agride um jovem. Esse até poderia ser um plot para Luke, mas foi usado para um discurso da Black Mariah, que usa com outra intenção. Tudo isso poderia ter sido base para série, mas são só referências que podem ser perdidas. Por se tratar de Netflix é até um espanto a série não ter sido mais ousada, o que nos leva a ver que a toda poderosa Marvel não quer se comprometer.
Luke Cage é irregular, tem um começo bom com desenvolvimento interessante, mas se perde da metade para o final. Possui personagens bons, mas não um enredo. Nem vou comentar a utilização do conflito Thor/Loki 2.0 como gatilho para o vilão presente na segunda metade da temporada. Apesar disso Luke Cage tem algumas atuações fora de série, ambientação e trilha sonora incríveis, por isso recebe nota 6,0.
Nota: 6,0
INFORMAÇÕES
Título: Luke Cage
Temporada: Primeira
Episódios: 13
Duração: 46/65 Minutos
Gênero: Ação, Aventura.
Criação: Cheo Hodari Coker
Produção: Aïda Mashaka Croal, Akela Cooper, Gail Barringer.
Elenco: Mike Colter, Mahershala Ali, Simone Missick, Theo Rossi, Rosario Dawson, Eric LaRay Harvey, Alfre Woodard, Frank Whaley, Frankie Faison, Sônia Braga e Frankie Faison.