Sinopse: Quando a missão de exploração de Marte Ares III, composta pela capitã Melissa Lewis (Jessica Chastain) e pelos astronautas Mark Watney (Matt Damon), Rick Martinez (Michael Peña), Beth Johanssen (Kate Mara), Chris Beck (Sebastian Stan) e Alex Vogel (Aksel Hennie), é atingida por uma tempestade, a decisão tomada pela capitã é abandonar o solo marciano e voltar à Terra. Um acidente acaba fazendo com que o astronauta Mark Watney se separe do grupo e seja dado como morto. Dias depois, a NASA, dirigida por Teddy Sanders (Jeff Daniels), descobre que Watney está vivo e tentando sobreviver com o que sobrou dos equipamentos da missão. Resta agora à agência espacial americana lutar contra o tempo para desenvolver um plano de resgate do astronauta, através dos diretores de missões Vincent Kapoor (Chiwetel Ejiofor) e Mitch Henderson (Sean Bean), enquanto a responsável pelas relações públicas da NASA Annie Montrose (Kristen Wiig) tenta gerenciar a maior crise da agência desde o desastre/ sucesso da missão Apolo 13.
Ridley Scott é um diretor absolutamente consagrado, que dirigiu obras-primas como Alien – O Oitavo Passageiro (1979) e Blade Runner – O Caçador de Androides (1982). Em outras palavras é um diretor que não precisa provar nada a ninguém. E é corajoso que o diretor, aos 77 anos, assuma a responsabilidade de se aventurar em um tema controverso dentro de Hollywood. E neste Perdido em Marte, Scott realiza o seu melhor trabalho desde o ótimo O Gângster (2007). O diretor consegue imprimir um energia a este novo longa digna de nota. Em nenhum momento o espectador se sente cansado em acompanhar os esforços de Mark Watney para sobreviver em Marte e os desafios da equipe da NASA em desenvolver um plano de resgaste em tempo recorde. Quem assiste ao filme se sente imerso naquela realidade e torce com todas as forças para que tudo termine bem para o astronauta perdido. O espectador se envolve emocionalmente com o personagem, rindo quando algo dá certo e se frustrando quando algum problema acontece. A transição entre as sequências que se passam na Terra, em Marte e no espaço, através da tripulação da Ares III, às vezes não é bem conduzida, já que em alguns momentos um dos três núcleos da trama fica esquecido durante um tempo considerável enquanto outros núcleos são desenvolvidos. Não é um fator que atrapalhe o resultado final, mas é algo que incomoda pela urgência que a história transmite.
Tecnicamente o longa é arrebatador. Marte é mostrado na totalidade da sua vastidão e desolação, aumentado a sensação de desespero que o espectador sente junto com astronauta perdido. Para simular o planeta vermelho foi escolhido o Vale de Wadi Rum, na Jordânia, onde aconteceram as filmagens. A fotografia do longa é lindíssima, mostrando paisagens desérticas, quase sempre cobertas por tempestades de areia vermelha. Os efeitos especiais são competentes, principalmente ao deixar o Vale de Wadi Rum com “cara” de Marte e nas sequências que se passam no espaço tendo como foco a gigantesca nave Ares III.
A história do longa é simples na sua concepção, mas complexa no seu desenvolvimento. Conforme a projeção avança e mais personagens vão surgindo e variantes dos problemas também, percebe-se que resgatar o astronauta em Marte exige que inúmeras variáveis sejam resolvidas. E esse é um dos grandes méritos do filme: mostrar a complexidade sem precedentes que uma missão de resgate em Marte envolve, levando-se em conta fatores financeiros, diplomáticos, estruturais e, principalmente, humanos. Há problemas de tom no filme que incomodam o espectador. Em uma história em que o foco principal é o drama de um ser humano sozinho em Marte com comida racionada e tecnologia limitada, o humor precisa ser dosado para não tirar o peso do problema. Aqui o longa erra feio ao incluir humor em sequências essenciais. Enquanto o humor de Mark Watney é um mecanismo de defesa do inconsciente para evitar a insanidade, nos personagens da Terra é algo descartável e desnecessário que quebra o ritmo do longa. As “mensagens telegrafadas” são outro problema. Quando um personagem fala em determinado momento do filme “Temos uma janela curta entre a chegada do resgate para Mark Watney e o término dos suprimentos que ele ainda tem. Isso se não acontecer nenhum problema.” Já dá para imaginar o que acontece na cena seguinte. Esse mecanismo de roteiro é péssimo e é utilizado pelo menos três vezes durante a projeção, já mostrando o que vai acontecer antes mesmo de acontecer. E a inclusão da agência espacial chinesa na história é forçada e totalmente desnecessária, só servindo para atrair público chinês para assistir ao longa.
O elenco estelar é competente e não decepciona na sua maioria, mesmo tendo personagens em excesso. Matt Damon está perfeito como Mark Watney. O ator carrega boa parte da projeção sozinho, mas seu carisma é mais do que suficiente para prender a atenção do espectador. Os conhecimentos do seu personagem em botânica, geologia, química, física, mecânica e astronomia nunca surge implausível, o que também é mérito do ator que mostra que sabe o que está fazendo em cena. O fato do roteiro não se aprofundar nos problemas psicológicos que o personagem desenvolve durante a narrativa é uma falha, já que é impossível que uma pessoa que fique sozinha e isolada do contato humano, em condições extremas, não desenvolva nenhum distúrbio psicológico. O espectador tem dificuldade em comprar a ideia do personagem ter emagrecido, já que fica claro que quando é mostrado o corpo magro não se trata do ator. Jessica Chastain está ótima como a capitã que tomou a decisão de abandonar o suposto morto Mark Watney. A dor que a personagem sente ao saber que o companheiro está vivo é algo palpável, e o espectador sente o sofrimento junto com a personagem. Kate Mara e Michael Peña estão bem como outros dois astronautas da Ares III, suas perícias técnicas são exploradas e os atores não desapontam. Sebastian Stan e Aksel Hennie estão apagados no longa, fazendo apenas volume para a tripulação, sem acrescentar em nada. No núcleo da Terra, Jeff Daniels está bem como o chefão da NASA. Embora seu personagem tenha a única função de dar ordens e cobrar prazos cada vez menores para sua equipe, o ator tem presença e impõe o respeito necessário que o personagem necessita. Sean Bean e Chiwetel Ejiofor estão eficientes como dois diretores de missão da NASA, mas seus personagens poderiam muito bem terem sido fundidos em um só, já que praticamente possuem a mesma função na trama: gerenciar equipes para trazer Mark Watney de volta à Terra vivo. Já a personagem de Kristen Wiig poderia ter sido excluída do roteiro, não acrescentando em nada na história e possuindo apenas meia dúzia de diálogos.
Com um terceiro ator dos melhores, tensos e empolgantes dos últimos tempos, Perdido em Marte tem tudo para fazer o sucesso que um filme sobre o planeta vermelho necessita. Tem ótimo elenco, história competente e é tecnicamente irrepreensível. O espectador não desgruda da cadeira durante toda a projeção e torce para que Mark Watney retorne vivo para a Terra. Um filme com esta energia contagiante de superação humana com certeza merece ser assistido.
Elenco: Matt Damon, Jessica Chastain, Kate Mara, Michael Peña, Sebastian Stan, Aksel Hennie, Jeff Daniels, Kristen Wiig, Sean Bean, Chiwetel Ejiofor.