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Crítica - Power Rangers - O Filme (2017) | INVADER

Crítica – Power Rangers – O Filme (2017)

Mesmo com esses tropeços, o filme consegue se segurar na arriscada aposta de equilibrar elementos tão diferentes quanto humor e drama ao longo de sua trama.7 min


[SEM SPOILERS]

Em agosto de 1993 estreava o super sentai nipo-americano Mighty Morphin Power Rangers, que marcou toda uma geração de jovens e que, com o passar dos anos, cada geração passou a consumir seu próprio tipo de formação ranger. Hoje, em 2017, os Power Rangers tentam voltar, a todo vapor, com uma adaptação cinematográfica feita pela Lions Gate.

A trama segue a história de cinco adolescentes normais que precisam se tornar algo extraordinário quando eles descobrem que sua cidade, Alameda dos Anjos, e o resto do mundo está prestes a ser obliterada por Rita Repulsa, uma guerreira alienígena. Escolhidos pelo destino, nossos heróis rapidamente, ao acharem cinco moedas do poder em uma pedreira, descobrem que são os únicos que podem salvar o planeta. Mas para isso eles precisam resolver suas vidas primeiro, antes de se juntarem como os Power Rangers.

Mas será que essa trama vale toda essa nostalgia que nos desperta ?

Primeiramente, mesmo tendo MUITOS easter-eggs, referências e homenagens, esse filme é principalmente destinado ao público adolescente e jovem. O filme é bem resolvido em relação ao seu alvo, tem um jeito bem sóbrio, sem grandes ambições e ao mesmo tempo honrando a importância de seu material fonte. O tom de Power Rangers, aliás, fica bem entre a série de TV, infantil e lúdica, e o fan-filme “sombrio e realista” de 2015. Inclusive, essas duas características, humor e drama, são os dois pilares do filme, cujo equilíbrio por vezes é perturbado e, como será mostrado mais a frente, atrapalha o que deveria ser o terceiro pilar do filme: a ação.

O humor de Power Rangers pode parecer seguir a cartilha Marvel, mas pela personalidade dos personagens funciona de maneira bem orgânica com imperceptíveis deslizes, já que só algumas poucas cenas cômicas são desnecessárias. Além disso, grande parte do humor é o “humor de personagem”, onde você ri do jeito como o personagem se porta, não à  toa você vai perceber que Billy, o ranger azul, é o alívio cômico do filme. Justifica-se o uso do humor também pelo fato dos rangers serem um bando de adolescentes, no entanto a maioria das piadas de Zack, o ranger preto, são forçadas e há cenas por todo filme que são tão cômicas quanto a cena inicial com a vaca, são cenas que só parecem estar presentes para que o público não passa muito tempo sem rir.

Se por um lado Power Rangers resgata o humor da série antiga existem momentos em que o filme parece ter um pouco de vergonha de seu material de origem, o corrigindo com doses homeopáticas de fan-service (um grande mal que está acontecendo em Hollywood com todas as adaptações). Há claro respeito aos fãs e ao cânone, mas pareceu ou falta de verba ou de imaginação a explicação para não terem se aprofundado em um universo tão rico. O filme primazia o básico da mitologia para contar a sua história (bem ao estilo Jornada do Herói) e desenvolver o arco dos personagens envolvidos.

Com olhos atentos é possível ver que o arco dos personagens é ancorado nos atuais filmes “jovens” (Jogos Vorazes, Divergente, Maze Runner, etc) que Lions Gate já está acostumada a trabalhar. Até a fotografia lembra muito estes filmes, priorizando o frio, nebulosidade e apatia de cores tanto dos lugares quanto das roupas. Mas mesmo reaproveitando a “Jornada do Herói” dessas adaptações de livros, dessa vez com um “grupo” de escolhidos, pelo menos os problemas sociais que os jovens enfrentam, além de serem realistas e bem desenvolvidos, são o trunfo do filme e é a raiz do outro pilar de Power Rangers: o drama.  Vale ressaltar também que esse filme foge muito de outros nesse estilo de roteiro (herói escolhido, herói treina, herói derrota vilão), pois mesmo as etapas e fins sendo previsíveis, há muitos momentos que o roteiro faz quebras boas de clichê, tentando não só dar um respiro a esse estilo como também te prender na tela e te fazer esquecer do previsível (como a cena do trem e a consequência após o primeiro confronto contra Rita Repulsa).

O tal “drama” do filme é também o esqueleto do perfil dos personagens. Todos os cinco não só tem problemas reais e particulares como tentam resolver ou lidar com eles, ainda tendo nas costas o destino de serem rangers. A maneira como os personagens se ajudam com seus problemas sociais, falam deles e até se conhecem, lembra claramente o filme “O Clube dos Cinco”. Não à toa temos uma maluquinha, um nerd, uma líder de torcida, um atleta e um encrenqueiro. Embora todos os personagens tenham ótimas ideias de origem, Zack e Trini, que tem os problemas mais tocantes e adultos, são fracamente desenvolvidos, não apresentando um arco coerente, motivações para suas ações ou pior muitas vezes ficam sem falas durante muitas cenas, tendo assim arcos tão fracos que o único motivo do roteiro ter os tratado tão mal assim só pode ter sido por medo de se aprofundar nesses problemas. É um pena Power Rangers ter, nesse sentido, uma proposta tão boa, mas nadar no raso. Ainda sim, todo o elenco atua muito bem e os outros três rangers  evoluem o suficiente para carregar a história e, ainda bem, o filme mostra com enfoque a evolução da amizade dos cinco o que é não só o tema do filme, mas o tema de toda cultura ranger.

Saindo do escopo dos protagonistas, quem dá um verdadeiro show de interpretação é a atriz Elizabeth Banks, a Rita Tespulsa, que conseguiu ser muito assustadora (suas cenas  iniciais parecem ser tiradas de um filme de terror de bruxa), o que agregou muito ao filme, mas ao mesmo tempo ela consegue ser  engraçada como na série, o que ocorre no terceiro ato do filme,  sendo assim é uma homenagem bem feita. De verdade, é uma melhores vilãs que surgiu recentemente no cinema. Também não podemos esquecer do robozinho Alpha 5, personagem de Bill Hader, que rouba a cena quando parece, tanto pelo seu humor bem feito, quando pelos maneirismo que homenageia muito bem a Alpha 5 da série de 93.

Quanto a direção… a direção é boa, mas é muito derivativa, com momentos que parecem J.J. Abrams com câmeras lentas ao estilo Snyder, fotográfica, como já dita, padrão de filmes “jovens” da Lions Gate. Realmente o diretor Dean Israelite não acrescenta nada novo, fazendo se filme como algo similar ao novo Quarteto Fantástico, mas que pelo menos foi bem feito. Já a trilha sonora, ela passa por períodos muito bons e outros nem tanto. A cenas de treinamento e diversão tem um fundo muito bom, como na cena dos zords com releitura da música clássica, a música do trailer do filme na cidade e uma interpretação fenomenal de “Stand by me” (nessa parte é até difícil segurar as lágrimas de tão bem feito),  mas na luta final e nas cenas de luta com bonecos de massa, são muito mal executadas na parte de som, em especial a da luta do megazord que além de não engrandecer parece mais destoar da luta.

E já que falamos de zords e lutas, vamos a questão MAIS POLÊMICA DE POWER RANGERS.

As armaduras são muito bacanas muito bem feitas, e ainda que os zords sejam confusos e de um design não muito elogiável  numa período atual do cinema, onde já experimentamos coisas como Transformers e Círculo de Fogo, o maior problema do filme não são o que é usado, mas como, pois mesmo tendo as armaduras e zords, a única cena de luta é no terceiro ato e é extremamente rápidas.

Quando você faz um filme derivado de uma série ação e o vende como um filme de ação nos trailers e pôsteres é um disparate muito grande você colocar toda a parte da ação, todas as lutas (ou melhor, luta no singular) na metade do terceiro ato do filme. Até então se Power Ranges se mostra um filme muito bom, infelizmente já vá esperando bem pouco, bem pouco mesmo, de armaduras e zords. Ao chegar a esse momento, Power Rangers se torna bem desbalanceado, mesmo que toda essa parte da ação seja feita com muito esmero e tenha ficado realmente boa, mesmo curta.

Não que o filme tenha obrigação de ser cheio de ação, mas claramente o roteiro parece ser mal pensado. Os motivos foram que, primeiro, como dito no início dessa crítica, tamanho foco no humor e no drama (problemas pessoais e apresentação de personagens), tenha tirado o espaço da ação, logo ação que deveria ser um dos pilares de Power Rangers. Em segundo, é evidente que Lions Gates esperava criar um drama adolescente usando Power Rangers como plano de fundo, mas percebeu que não podia ser tão irresponsável a ponto de não colocar uma grandiosa batalha final (algo parecido que Quarteto Fantástico também sofreu, só que pior).

Mesmo com esses tropeços, o filme consegue se segurar na arriscada aposta de equilibrar elementos tão diferentes quanto humor e drama ao longo de sua trama, ainda que isso leve a adaptação a negligenciar a parte da ação. Além disso, mesmo que haja piadas fora de hora e furos de roteiro que ignoram personagens, o filme tem seus momentos geniais, o que faz dele, com certeza, valer o preço do ingresso se você quiser se divertir.

Talvez, no futuro, com um pouco mais de dinheiro e já sem a necessidade de contar a “história de origem” (âncora de toda franquia cinematográfica), quem sabe não vejamos algo que realmente marque toda uma geração como Mighty Morphin Power Rangers nos marcou.

NOTA: 7,5

INFORMAÇÕES
Título: Power Rangers (Power Rangers)
Direção: Dean Israelite
Duração: 124 Minutos
Lançamento: Março de 2017
Elenco: Dacre Montgomery, Naomi Scott, RJ Cyler, Becky G, Ludi Lin, Bryan Cranston, Elizabeth Banks e Bill Hader.


Ton Borges