[CONTÉM SPOILERS]
Sinopse: Durante o período final das Guerras Clônicas, o Supremo Chanceler Palpatine (Ian McDiarmid) é sequestrado pelo líder da Confederação dos Sistemas Independentes Conde Dooku (Christopher Lee). Para resgatar o líder político da República Galáctica, os jedi Anakin Skywalker (Hayden Christensen) e Obi-Wan Kenobi (Ewan McGregor) são enviados em uma missão que envolve muito mais do que aparenta no início. Enquanto isso, a Senadora Padmé Amidala (Natalie Portman) tenta esconder uma gravidez resultante do casamento secreto com Anakin.
Após quase trinta anos, enfim George Lucas fecha a sua hexalogia, amarrando todas as pontas soltas da história, fazendo todas as conexões entre a Trilogia Clássica e a Nova Trilogia e deixando uma legião de fãs órfã, pelo menos momentaneamente. Com uma recepção mais calorosa de Star Wars: Episódio II – O Ataque dos Clones, Lucas acerta a mão de vez neste filme de desfecho, errando pouco e entregando uma trama surpreendente mesmo para os fãs que já sabem o que acontece depois. É um longa maduro, sombrio e desesperançoso, onde Lucas mostra o quanto evoluiu como diretor e como ele sempre possuiu domínio sobre o seu material de origem, contando uma história que faz sentido e é redonda em um arco de seis filmes, marcando a vida de duas gerações de fãs da saga espacial.
A história deste Star Wars: Episódio III – A Vingança dos Sith talvez seja a mais simples e objetiva da Nova Trilogia. Finalmente todos os bastidores políticos foram deixados de lado, sendo que o Senado Galáctico é mostrado em funcionamento apenas uma vez em uma cena importantíssima da trama. Basicamente o espectador acompanha os últimos dias das Guerras Clônicas, a revelação do verdadeiro inimigo e as consequências de seus planos. Lucas, como roteirista, é feliz ao demonstrar o esgotamento físico e psicológico dos jedi, que estão espalhados pela galáxia como generais das tropas clônicas. É um fator essencial para sustentar algumas ações e decisões da Ordem Jedi que, mais do que ninguém, está ávida pela conclusão da guerra. As manipulações do Supremo Chanceler Palpatine finalmente são reveladas, evidenciando mais uma vez o quão fracos os jedi estão em relação à Força, já que o inimigo sempre esteve na frentes deles. O plano arquitetado para que Palpatine tome Anakin como seu novo aprendiz convence principalmente pelo sith utilizar o maior ponto fraco do jedi: seu apego à família. E o plano maior de derrubar a república para a instalação de um império é executado à perfeição, sem nenhuma falha, mostrando mais uma vez o controle que o sith possuía de toda a situação. Algumas decisões do roteiro são falhas, como esquecer Padmé e C-3PO durante boa parte da narrativa, dar o pior motivo para alguém morrer durante o trabalho de parto da história do cinema e a subutilização de um personagem com muito potencial como o general Grievous, já que os fãs que tinham assistido à série em animação 2D do Cartoon Network Star Wars – Clone Wars sabiam que o personagem poderia render bem mais do que foi mostrado neste longa.
As sequências de ação alternam entre memoráveis e decepcionantes. A sequência inicial que se passa na órbita de Coruscant impressiona pela magnitude do confronto entre os exércitos da República e Separatista, resultando em uma sequência dinâmica e divertida. Por outro lado, o confronto entre Anakin e Obi-Wan contra o Conde Dooku é burocrático e sem imaginação, não impressionando. Situação pior acontece com os confrontos entre Obi-Wan e general Grievous e Palpatine contra os jedi comandados por Mace Windu (Samuel L. Jackson), que são mal coreografados, sem imaginação e empalidecem diante do potencial que tais confrontos apresentam. Já o confronto final entre Anakin e Obi-Wan é magistralmente coreografado e realizado, com mudanças de ambientes e situações, fazendo deste o melhor confronto de toda a saga. O dinamismo e a velocidade dos lutadores é tamanha que é de impressionar, ressaltando ainda mais as habilidades dos dois jedi. Como curiosidade vale ressaltar que Ewan McGregor e Hayden Christensen ensaiaram durante três meses exaustivamente para filmar a sequência. Cada segundo do combate enche os olhos do espectador. O combate em Palpatine e Yoda também é deslumbrante, fazendo jus à importância dos dois personagens e utilizando o Senado Galáctico como palco, numa clara analogia ao combate entre a democracia e o autoritarismo. Mas todas as sequências do longa somem quando se leva em consideração a sequência que mostra a morte dos jedi. Embora seja curta, é o seu significado, a trilha sonora e a realização que leva o espectador às lágrimas. Um acerto de Lucas que tem noção da importância que suas criações mais importantes possuem no imaginário coletivo e o impacto que a sua queda teria no espectador. É uma sequência que está para a Nova Trilogia assim como a cena em que Darth Vader revela ser pai de Luke Skywalker está para a Trilogia Clássica.
Tecnicamente o filme é mais uma vez impecável, utilizando os efeitos especiais novamente em excesso, mas ao mesmo tempo com qualidade. A direção de arte acerta principalmente na concepção do planeta Mustafar, um planeta vulcão que serve de palco para a batalha entre Anakin e Obi-Wan. Utapau também impressiona pela sua arquitetura subterrânea em níveis, formando um complexo labirinto, mas impressionante de se apreciar. A trilha sonora continua magnífica, pontuando cada sequência com perfeição, destacando, principalmente, a sequência da queda dos jedi e a sequência de invasão ao Templo Jedi. O design de criaturas é menos imaginativo neste filme, sendo que os habitantes de Utapau, a nova espécie que possui mais destaque neste longa, não se destacam na vasta galeria de espécies da saga. Os efeitos especiais carregam boa parte do longa, mas estão mais funcionais e mais a serviço da narrativa do que nos dois filmes anteriores. De qualquer maneira, são efeitos especiais que mesmo dez anos depois ainda possuem qualidade e relevância, mostrando o domínio que Lucas possui sobre a área.
Ewan McGregor está mais seguro e confortável no papel, interpretando um Obi-Wan sereno, confiante, habilidoso e sábio, tornando ainda mais crível a sua versão mais velha interpretada por Alec Guiness na Trilogia Clássica. A dor que o personagem sente ao saber o destino de seu aprendiz e as decisões por ele tomadas é palpável ao espectador, evidenciando ainda mais as qualidades técnicas de McGregor. Hayden Christensen está melhor neste longa em relação ao anterior, méritos também do roteiro que fez o favor de eliminar quase todas as cenas de amor entre Anakin e Padmé. O ator canadense ainda mostra várias deficiências técnicas e caras e bocas, mas a sua conversão para o lado negro convence e a sua dedicação nas cenas de ação garante a boa vontade do espectador para com ele. Natalie Portman está apagada neste longa, desaparecendo no segundo ato a aparecendo no terceiro apenas para cumprir uma função no roteiro e também dar a luz aos seus filhos gêmeos. É um desperdício de uma boa atriz, que foi melhor utilizada nos dois filmes anteriores. Christopher Lee não tem tempo de fazer muita coisa, ficando difícil avaliar a sua interpretação. De qualquer maneira, o porte do ator e sua presença de tela já são suficientes para prender a atenção do público. Ian McDiarmid finalmente tem o seu momento de brilhar e sair das sombras. O ator se sai absolutamente bem na função, interpretando um lorde sith poderoso, mentalmente e fisicamente habilidoso e totalmente relevante para a trama de toda a saga espacial.
Não deixando nenhuma pergunta no ar e apagando de vez a má primeira impressão deixada pelo primeiro longa da Nova Trilogia, Star Wars: Episódio III – A Vingança dos Sith conclui de maneira satisfatória a história iniciada por George Lucas em 1977, coloca em descrédito toda a leva de fãs que diz que os novos filmes nunca deveriam ter feito e presenteia todos os fãs de cinema com um longa relevante, bem realizado tecnicamente e com boas interpretações.
NOTA: 9,0