[CONTÉM SPOILERS]
Sinopse: A Aliança Rebelde estabelece sua base no inóspito planeta Hoth. Em uma missão de campo, Luke Skywalker (Mark Hamill) é ferido e durante seus devaneios recebe uma mensagem do espírito de Obi-Wan Kenobi (Alec Guinness) dizendo para Luke procurar o lendário mestre Jedi Yoda (Frank Oz) no planeta Dagobah. Após uma batalha em Hoth, Luke segue para seu treinamento Jedi, enquanto a Princesa Leia (Carrie Fisher) e Han Solo (Harrison Ford) continuam fugindo de Darth Vader (James Earl Jones), precisando pedir ajuda para o comerciante de índole duvidosa Lando Calrissian (Billy Dee Williams).
Depois do sucesso absoluto de Star Wars: Episódio IV – Uma Nova Esperança(1977), o público estava ávido por mais histórias de Luke, Han e Leia. Por sorte, George Lucas já tinha o esboço das histórias dos próximos longas pronto mesmo antes de começar a filmar o primeiro filme. Como a administração da marca Star Wars e de todos os seus produtos licenciados estava tomando muito tempo de Lucas, o diretor decidiu passar o cargo para o pouco conhecido Irvin Kershner, que de início foi relutante em aceitar a direção, mas foi convencido posteriormente. Lucas fundamentou a sua escolha em um argumento essencial para a continuação de um filme: Kershner tinha um ótimo foco em desenvolvimento de personagens. A partir do momento em que o universo de Star Wars estivesse estabelecido e os personagens fossem apresentados, o que ocorreu no primeiro filme, era o momento de expandir a história, enriquecer a mitologia envolvida e, principalmente, explorar os personagens de maneira que seus desenvolvimentos emocionais fossem críveis para o espectador. Irvin Kershner entrega um filme perfeito, com uma história redonda e fluída, ótimas interpretações e a inclusão de novos personagens que de imediato conquistaram o coração dos fãs.
Irvin Kershner foi uma escolha estranha de início para a direção deste Star Wars: Episódio V – O Império Contra-Ataca. O diretor havia dirigido anteriormente alguns episódios de séries de TV e alguns filmes de gêneros diversos. Nada o qualificava para dirigir a continuação do filme de maior sucesso da época. George Lucas apostou em Kershner, que posteriormente dirigiria grandes filmes como 007 – Nunca Mais Outra Vez (1983), A Última Tentação de Cristo (1988) e Robocop 2 (1990). Kershner demonstra domínio absoluto sobre os atores, conseguindo interpretações consistentes e convincentes de todos aqueles que estão em cena, sem excessão. Sua visão para construir sequências de ação é primorosa, como a batalha no planeta Hoth ou o duelo de sabres de luz entre Luke e Darth Vader. Ao mesmo tempo o diretor consegue filmar sequências mais intimistas com qualidade, com destaque para todo o arco de autoconhecimento pelo qual Luke passa em Dagobah e a dinâmica elétrica entre Han e Leia.
Como uma boa sequência deve fazer, neste filme a mitologia do universo Star Wars é expandida. Pela primeira vez vemos, mesmo que através de uma projeção holográfica, o Imperador Palpatine, criando um impacto no espectador, já que se há alguém para quem Darth Vader se ajoelha esse alguém deve ser imensamente poderoso e perigoso. O espectador é apresentado a um dos melhores personagens de toda a saga, o mestre Jedi Yoda, e com ele Luke e nós aprendemos mais sobre a Força e sua influência nas pessoas e na galáxia. A genealogia dos Skywalkers fica mais clara, evidenciando que tudo está conectado de alguma maneira, nada sendo ao acaso. A dinâmica da Aliança Rebelde é mais explorada a partir de toda a logística do que acontece antes e depois da batalha de Hoth. A influência do Império Galáctico é retratada a partir dos eventos em Bespin e seu poderio bélico é novamente ressaltado no novo Super Star Destroyer, a nave principal de Darth Vader. A história segue um caminho natural, mostrando os esforços da Aliança Rebelde para ameaçar o praticamente indestrutível Império Galáctico, e a mobilização deste último para reprimir qualquer levante contra o governo. Luke precisa terminar seu treinamento jedi se quiser confrontar Darth Vader e Han e Leia precisam fugir das tropas imperiais enquanto a cabeça do piloto também está a prêmio por suas dívidas passadas. Enquanto estes acontecimentos se desenrolam, sentimentos começam a surgir entre Han e Leia.
As concepções dos planetas Hoth, Dagobah e Bespin são soberbas. Hoth surge como um mundo congelado, inabitável e vasto, perfeito para que a base da Aliança Rebelde passe despercebida pelas tropas imperiais. Dagobah é, em um primeiro momento, repulsiva, mas a simpatia do espectador para com o lugar melhora principalmente por sabermos que quem habita o lugar é Yoda. Bespin, através da Cidades das Nuvens, é lindíssima e funcional, mesmo estando flutuando quilômetros acima do solo. Os efeitos especiais continuam presentes e relevantes, como na batalha de Hoth, envolvendo infantaria, snowspeeders e AT-ATs, sendo estes últimos uma das criações mais interessantes da equipe do longa, além da perseguição do Império à Millenium Falcon no espaço e passando por um campo de asteróides. A duelo entre Luke e Darth Vader é dinâmico e bem coreografado, finalmente mostrando todo o potencial que um embate com sabres de luz possui. John Williams novamente mostra sua genialidade ao compor a Marcha Imperial, aquela que seria conhecida para sempre como a trilha sonora de Darth Vader, que, ao ser tocada, cria uma tensão e uma sensação de desesperança imediata. A direção de arte prima por criar ambientes internos ricos, como os túneis da base rebelde em Hoth, a minúscula casa de Yoda, as instalações mineradoras de Bespin e a câmara de congelamento em que Han Solo é colocado na carbonita.
A revelação de que Luke é filho de Darth Vader, anteriormente conhecido como Anakin Skywalker, é a cena mais icônica da Trilogia Clássica. Fãs de Star Wars e adoradores de cinema em geral conhecem a famosa frase “Não, eu sou seu pai.” dita por Darth Vader, criando um dos momentos mais influentes e copiados da história do cinema. O que torna tal revelação tão importante é, primeiro, a importância dos personagens envolvidos para a história toda e, segundo, a confirmação do poder e da influência que o lado negro da Força possui, fazendo com que o longa seguinte Star Wars: Episódio VI – O Retorno de Jedi e toda a questão do Imperador Palpatine tentar converter Luke para mudar de lado fique ainda mais relevante, já que se o pai sucumbiu é perfeitamente possível que o filho também sucumba. Soma-se a isso o fato que depois da revelação se passam mais cinco minutos e o longa acaba, deixando o espectador, que acabara de receber um soco no estômago, sem chão e querendo respostas, que só seriam respondidas três anos mais tarde.
Mark Hamill interpreta Luke de maneira mais madura e menos impressionável do que no longa anterior, sabendo que é necessário se aprimorar nas artes Jedi e no domínio da Força, mas sem deixar de se preocupar com seus amigos que estão em perigo. O ator é feliz ao tornar crível toda a sua jornada de amadurecimento e autoconhecimento do personagem em Dagobah. Como Hamill sofreu um acidente de carro antes das filmagens deste longa, o que o deixou com cicatrizes no rosto, o roteiro precisou ser adaptado para que Luke também tivesse as mesmas cicatrizes, o que acabou culminando na sequência inicial do filme em que o jedi é atacado e preso por um wampa. Carrie Fisher continua bem no papel de Princesa Leia, sempre confiante, determinada, independente e voluntariosa. O destaque fica por conta da sua dinâmica de casal, cujos sentimentos ainda não foram assumidos, com Han Solo, que permeia todo o longa. Harrison Ford está mais carismático do que nunca, usando charme e arrogância na construção de um personagem que deixa o tom do filme, bem mais sombrio que o anterior, um pouco mais leve. Alec Guinness aparece pouco como o fantasma de Obi-Wan, mas está competente como de hábito. James Earl Jones continua brilhante na voz do maior vilão da história do cinema, colocando peso e respeito ao personagem. Frank Oz está perfeito como o principal manipulador do boneco Yoda e responsável pela voz do mesmo. Toda a concepção do personagem é primorosa, criando um mestre jedi poderoso e sábio no corpo de um alienígena minúsculo, verde, com 900 anos, que fala invertendo a ordem das frases e que, em um primeiro momento, parece um ancião atrapalhado e maluco. Billy Dee Williams é uma grata adição ao elenco, colocando bastante charme e carisma em um personagem inicialmente desconfiável, mas que mostra seu valor com o desenrolar da trama.
Deixando pontas soltas que só fazem o espectador ficar mais ansioso para o próximo longa, Star Wars: Episódio V – O Império Contra-Ataca é o melhor filme da hexalogia, apresentando conceitos e estruturas que seriam copiadas por muitos outros filmes, principalmente filmes do meio de trilogias. Consegue melhorar o que já tinha de ótimo no primeiro filme, aumenta a quantidade de fãs ao redor do mundo e consegue enraizar ainda mais a saga na cultura pop.
NOTA: 10,0