Crítica – Batman: O Cavaleiro das Trevas: Parte 2

Finalizando o arco da HQ Batman - O Cavaleiro das Trevas, esta segunda parte da história é tão perfeita quanto a primeira, mas possui uma escala épica incomparável e que surge em um crescendo de acontecimentos, aumentando a emoção do espectador. Juntas, primeira e segunda parte, possuem um qualidade ímpar e nota-se que foram realizadas por pessoas que entendem, com justiça, que o material original é uma obra-prima. 5 min


[SEM SPOILERS]

Sinopse: Sabendo que o Coringa (Michael Emerson) irá conceder uma entrevista em rede nacional para mostrar a sua melhora como cidadão, Batman (Peter Weller) e a Robin (Ariel Winter) investigam para descobrir qual é o verdadeiro plano do vilão, fazendo com que a nova Comissária de Polícia de Gotham City Ellen Yindel (Maria Canals Barrera) parta em uma caçada para prender o herói que enxerga como ameaça à população. Enquanto isso, Superman (Mark Valley) é convocado para tentar acalmar os ânimos de seu velho amigo.


Depois de toda a construção da atmosfera da história no ótimo primeiro longa, Jay Oliva comanda a segunda parte de maneira magistral. Imprimindo um ritmo mais acelerado, com menos tempo para conversa e mais para ação, o diretor novamente abusa da perfeição da HQ de Frank Miller e cria um espírito épico para este longa. Como tudo o que precisava ser explicado em termos de contextualizar o espectador naquele universo já havia sido feito, Oliva se vê com uma gama de possibilidades maior, conseguindo criar sequências de lutas impactantes visualmente e marcantes narrativamente. 


O longa é dividido basicamente em três partes. Na primeira delas, e melhor, vemos aquilo que mais gostamos de ver nas histórias do Batman: o Coringa sendo o Coringa. A segunda é a tentativa do herói em reestabelecer a ordem em Gotham City depois que um pulso eletromagnético vindo de uma bomba atômica acabou com a eletricidade na cidade. E o ato final é o embate entre os dois maiores heróis de todos os tempos: Batman e Superman. A transição de uma parte a outra é orgânica, criando uma relação de causa e efeito que evita que a narrativa fique episódica. A trama paralela da tensão política e militar entre EUA e URSS também ajuda a mover a história para frente, mas, principalmente, serve para mostrar como o Superman se tornou fantoche do governo americano ao lutar em guerras onde, obviamente, desequilibra as forças para um lado. 


O arco do Coringa, embora seja o mais previsível em termos de história (alguém tinha dúvidas do que o palhaço planejava para a entrevista?), é aquele narrativamente mais impactante por justamente colocar esta nova versão do Batman, velho e mais violento, com o velho Coringa, abrindo a gama de possibilidades do que pode acontecer. E toda a frustração do herói por nunca ter matado o vilão e possibilitado, assim, que o mesmo matasse centenas de pessoas, é sentido em cada golpe do Batman, criando uma sequência de luta visceral, dinâmica, sangrenta, relevante e com um desfecho surpreendente pelos limites que são ultrapassados. Coringa sempre foi o maior vilão do Batman justamente por não querer nada além do caos absoluto e possibilitar que o herói tenha uma última luta contra ele em seu estágio mais animalesco é uma catarse e tanto para os fãs. 

A interação entre Batman e Robin atinge uma sintonia agradável de acompanhar pela relação de amizade camuflada em uma relação de patrão e empregado. A Robin tem o espírito juvenil e, muitas vezes, inconsequente com que tanto Bruce se identifica e, ao mesmo tempo, o faz temer pela própria segurança da adolescente. Embora a garota tenha pouca utilidade em termos de luta, já que ainda está sendo treinada, o seu apoio nas missões do Batman é fundamental para que o herói tenha sucesso. Já a imagem de Batman como um líder político e militar convence pela bagagem que o personagem possui, sendo um óbvio sinal de esperança em uma Gotham City em pânico pelo caos que se instala após o apagão causado pela explosão nuclear. Surpreende acompanhar o exemplo que o herói dá na população entregue à selvageria, mobilizando os cidadãos para que, junto,  realizem a conservação da cidade, sendo uma cidade conhecida pela violência, egoísmo, corrupção e pobreza de caráter. Ao ver tudo isso, a Comissária Yindel fala aos seus subordinados ‘Isso é muito grande’, levando-a a admitir que o exemplo que o Batman carrega como símbolo de esperança em meio à escuridão é algo grande mais para ser contido e importante demais para ser descartado. O que gera a ação seguinte do Presidente dos EUA: enviar o Superman para capturar o Batman. O medo que o presidente sente da liderança política do herói em Gotham City é disfarçado na sua conversa, aparentemente, trivial com o Homem de Aço. 

Colocar frente a frente Batman e Superman é algo que todo o fã gosta de ver. Obviamente que, em uma disputa nas condições normais, não haveria possibilidades do Batman vencer. Justamente por isso a HQ cria uma situação que equilibra as forças na luta e acaba sendo um mecanismo de roteiro eficiente e orgânico: como Superman foi atingido pela explosão nuclear, seu corpo está debilitado e a ausência do Sol, causado pelo inverno nuclear, o impossibilita de ‘recarregar’. Pronto. A ‘desculpa’ perfeita para tornar a luta plausível. E a luta em si é espetacular com Batman e Superman dando o seu melhor em termos de habilidades, mas, ao mesmo tempo, evitando golpes fatais porque, no fim das contas, ainda são amigos, mesmo que tenham pontos de vista moralmente divergentes. O final é surpreendente por não ter sido mostrado determinado objeto em nenhum momento da história, criando um impacto narrativo importante. 

Tecnicamente o este longa se iguala ao anterior, uma perfeição de saltar aos olhos. A dublagem  brasileira novamente é excepcional e, melhor ainda, a utilização de um mesmo dublador para dublar diversos personagens secundários é diminuída aqui, embora não desapareça por completo. A grande adição ao elenco de dublagem é Guilherme Briggs na voz de Superman, possivelmente o melhor e mais engajado dublador do Brasil. A sua voz combina muito bem a serenidade do personagem com a sua fúria crescente no longa, entregando um trabalho sem nenhum retoque. 


Finalizando o arco da HQ Batman – O Cavaleiro das Trevas, esta segunda parte da história é tão perfeita quanto a primeira, mas possui uma escala épica incomparável e que surge em um crescendo de acontecimentos, aumentando a emoção do espectador. Juntas, primeira e segunda parte, possuem um qualidade ímpar e nota-se que foram realizadas por pessoas que entendem, com justiça, que o material original é uma obra-prima. 

NOTA: 10,0

INFORMAÇÕES

Título Nacional: Batman – O Cavaleiro das Trevas: Parte 2 (Batman – The Dark Knight Returns: Part 2)
Direção: Jay Oliva
Duração: 76 Minutos 
Lançamento: 2013
Elenco: Peter Weller, Ariel Winter, Mark Valley, Michael Emerson e Maria Canals Barrera.




Derek Moraes